Vi nos olhos o vazio preencher a rua
O beco inteiro agora tinha barulho de córrego
Não vi sentido no sentir
Mas vi na pele o valor de existir
Corri universos entre as fraldes
Gritei por cheiros que não lembro
Dei por conta da maior força quando atravessei a calçada
Eu poderia eternizar o o brilho dos teus cabelos
Embora não saiba muito
Sei que perdido esse episódio
Seria taciturno, seria ócio
Desde então aprendi que amor é apelido
Tudo de grandioso apreendo e digo
É indizível a rima do eterno.
Quem sou eu
- Tarciana Ribeiro
- A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
O IRMÃO MENOR
Lembro assim. Sempre quando eu chegava perto de Ernesto ele guardava um relicário, falava que era jóia de família, mentia mal o desgraçado e esquecia que Olga não era sagrada. Ficasse lá com suas lembranças, ou colocasse de decoração em nossa casa, eu já estava intimamente ligada aos brincos da “tia Cecília” o relicário nada me faria, a não ser que Olga tivesse a boca rosa e fina, isso estremecia meu coração. Ele não gostava de dividir, sempre brigamos por isso, sempre fui o ser mais fraco da casa, mas ele contava que me magoava muito com tão pouco que não sabia que deveras eu ficava a delírios com sua hostilidade. Nunca entendi as raspas, pra mim que se o destino era esconder o relicário e passar ligeiro pra não fazer perceptível o perfume, que os deixassem à vista. De nós três Caio era o mais esperto, eu nem percebia Caio em casa, só quando ele achava um cigarro de Ernesto. O que de lição tenho tido desde que os dois se foram é que estar só é um fato, mas deixar alguém só é uma escolha cruel e sem aviso. Não há mobília que sustente o vazio da lembrança sonora. Olga acompanhou sua própria lucidez.
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