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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Conversa de calçada norte-sul

-Gosto de seus três corações verdes.
Disse Tassiano fazendo um barulho estranho com a boca pra fumaça durar
Sentando numa das praças de Porto Alegre, contemplando os espaços entre as folhas e o céu
-Há quem pise nos três.
Disse Olga com a boca amarga da noite passada, deitada em posição de quem pede abrigo.
O cheiro dos dedos ainda a atormentam mas sua reza é forte.
-Ontem eu ia fazendo uma loucura.
-Ainda bem que não fez. E o que fez pra não fazer?
-Nada. Há muito tempo eu não fazia isso:nada.
-Ás vezes é o melhor a se fazer...


CATARSE TORÁCICA

Deve haver algum lugar entre o que foi dito e o que foi feito que um dia eu vá visitar, mas não quero.
Com certeza tem um lugar lá pras bandas de bom jesus em que eu vá entender a tolice alheia em proliferar  e ramificar todos os olhares às seis da manhã pra morrer seis da tarde. Há de haver um louco pássaro que sussurre no meu ouvido uma só palavra que tire o peso da interrogação das minhas costas. Há de ter uma razão pra todas as filosofias vãs que eu acreditei existirem por ter montado o seu próprio personagem de par ideal com a sua ajuda e todo um material divino e fui tão livre que a peça toda era minha, inclusive o drama. Há de ter um lenço no meio do caminho ou um jornal dobrado com alguma mensagem subliminar, uma ligação no fim do expediente que me faça entender o quão humanos somos. Há de ter um dia em que os corações parem de se emaranhar e transformar o fígado num eterno pardieiro e calabouço de tudo que não existiu. Há de ter um sol diferente quando eu passar na frente daquele viaduto outra vez. Há de ter pra onde eu olhar quando não quiser sentir vertigem, mesmo que não seja pros teus cabelos quando atravessava o sinal pra ir comprar cigarros. Há de ter um lençol que eu não precise lavar com ilusão de que todos os cheiros saíram dos dedos, porque sempre vem outros cheiros e a merda toda sempre esteve na frente do ventilador e eu tirei pra não te sujar. Há de ter um travesseiro castanho, e amanhã um ruivo pra cada coração verde que é colhido, Há de ter paz entre as lacunas que ficaram tão vazias quanto meu ventre, que meu coração cheio foi roubado e jogado por aí. Há de ter um dia uma luz no coração que foi embora com a facilidade de ir embora de um metrô lotado. Há de ter um dia em que um livro me baste e o manicômio e os cigarros sejam tão patéticos quanto a bandeja que eu entreguei na manhã do dia cinco . Há de ter mais cem dias pra que meu nome morra de vez, que se não for pra não ser falado porque eu respondia pelo apelido que tu botaste  não será também falado, igualmente espalhado como os delas por aí. Há de ter um novo apelido e um novo chaveiro pra mim também, um dia... que estou farta só de pensar e acho que a solidão nestes dias me apetece tanto quanto teu video game depois do expediente. Há de ter amor livre pra te receber nos olhos com nome de outra pedra  pros quatro cantos e o jogo de cintura que eu não tive por anos, que não sou desprendida e faço questão de nunca ser. Há de ter uma clareza que me faça entender porque você foi tão conivente quanto a menina do filme. Há de ter mais de cinquenta receitas e escutar aquela música do Belchior já está se transformando em outra coisa que não machuca. Há de ter uma luz que nunca se apaga. Há de ter.