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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

domingo, 10 de julho de 2016

A Lucy e nada

Meu surto é ver a mágica
Onde os sóis queimam a minha pestana
sem avisar nada que o futuro traz
e finalmente ver paz no encontro das retinas em chamas
Que se chamam nos universos atemporais.

Devaneio de Olga - REABILITA



Latência torácica no ataúde das maravilhas ou Cabine 610.






O momento em que uma coisa se transforma na outra é espantador. Olga dançava para Benício todas às sextas. E dançaria a vida inteira se ele não tivesse começado a deixar os cupins detonarem o retrato dela de sua cabeça. Benício desmanchava a noite o que Olga costurava de manhã. Se mexia muito e a coberta não aguentara. Olga já estava desfigurada e não tinha mais oportunidades para mostrar o seu balanço. Fumava seu cigarro olhando o rosto de Benício escurecer e adormecer no meio do quarto. Era inevitável que se amavam. Mas a cólera invadia sua casa. Não entendia como aquilo funcionava mas seu coração doía uma dor fina toda vez que se recordava de sua boca beijando os olhos de Benício enquanto esse dormia. E de como o seu rosto ficava quando ela o olhava iluminado pelo abajur laranja, passando os dedos no seu rosto e boca. Ele certamente estava por cima. Uma gota desceu e ela sussurrou soltando fumaça -Os cheiros não morrem. E nesse exato momento a visão se transformava em mais um nó na garganta. Um súbito de sensações num só insight. Como é difícil o desejo de amar. Lembrou olhando a lua pela janela. Era um nó tão igual ao que se formava quando se lembrava do dia em que Benício pronunciou que a chegada de Olga era a continuação das suas vidas causando silêncio absurdo em Olga que sentia seus olhos saltando dilatados e seu nariz avermelhar de felicidade. Benício tinha as costelas quentes e o sorriso que comportava toda a loucura trocada entre os dois. Certamente era o encontro das almas e estes eram nós a serem desfeitos delicadamente pelos mesmos caminhos. Se apegou com Deus como sempre fazia quando o destino fazia seu papel de puxar seu tapete. O amor tem prazo de validade? Olga tinha medo de morrer com a mão no coração a qualquer hora. Na certa estava mergulhada em conservante. Tentava meditar e abstrair, sair de cena. Perda total de tempo. Teve de começar a guardar os discos mas não conseguia, porque de súbito seu coração a levava pros rumos do futuro que fora sonhado e sentido ontem e isso, ainda mais que absurdo a fazia feliz . Por ter existido. E está lá, suspenso no tempo, enquanto o cheiro de Benício invadia suas narinas pela manhã em que ela não reconhecia o teto de sua própria casa. Lidava com aquela transformação também e desempoeirava Belchior nos ouvidos. Um riso sempre acabava lhe escapando. Toda dor é aquecida pela mão que tem de ser. Passou a gostar do ventilador de teto da casa da mãe e repetia frases sozinha. Foi diagnosticada com idealismo agudo e tiveram de ser internados em leitos diferentes. Benício certamente já estava em casa se auto medicando, era teimoso e encantado como quando era criança. Benício a muito não é visto. Olga voltou a ter insônia e aproveita pra ler, se libertava pouco a pouco do vício de conceder ao amor doses letais esperança.


Tarciana Ribeiro 28.06.16

ESPAÇO



Tudo em mim guardo num canto
tudo que demora fica ali, no mesmo canto
minha alma levita no repuxo
escrevo sobre o que sinto, e o que sinto é trêmulo
Meus nervos à espinhos da pele me ferem
quando sinto solidão nos poros da epiderme.

LACUNA SOUL







Na hora de atravessar a porta
eu gritei tão fundo
que a cidade ficou surda e não escutou
quando caíram as paredes do meu mundo.