Quem sou eu

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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

VERBO DE LIGAÇÃO (Narrativa do esplendor cotidiano)

O piano bateu. Foi assim que vi você saindo da barbearia tirando os óculos atravessando a rua pra mim olhando pros cabelos de Júlia, qualquer coisa negra brilhando às dez da manhã lembrando que a minha saia estava suja e igual.  A janela fechou. Foi assim que vi você gesticulando qualquer assunto em comum com Laura lembrando que o meu silêncio ecoa nas tuas falácias, porque elas não existem para mim que já conheces.  O ferrolho desceu. Foi assim que Maria passou olhando de rabo de olho ajeitando a barra da saia deixando à mostra seu quase seio de quase mulher e seu quase jeito firme de ser fincando de pedra tua pupila; lembrando que não há mais nada de charme no meu cabelo desbotado.  A nuvem pesou. Foi assim que Berenice atravessou a rua com aquela bundinha redonda balançando e hipnotizando a nós dois e eu percebi tua fixação por três míseros segundos que se repetiram quatro vezes enquanto ela passeava na confeitaria lembrando que a minha bunda não balança e não tem formato, porque ela está ao seu lado ou atrás de você quase sempre. A ficha caiu. Foi assim que Ariana puxou teus olhos quando jogava sinuca no bar de Arnaldo que sempre perguntava o significado da  minha tatuagem e eu em silêncio ria amarelo lembrando que tu olhavas as tatuagens de Marte na nuca dela que te percebia só porque fazias questão de passar ao lado dela. O barco dissolveu. Foi assim que Elisse apareceu no cenário dos espíritos de véu lembrando que não há mais nenhum tipo de graça em não ter explorado a América, em não ser do mundo, e que o conceito de conhecimento adorável é artificial e não tenho tantas estórias para contar. O espelho embaçou. Foi assim que  Olga dormiu e a tecnologia dos dedos permitiu comunicação com o quase desconhecido lembrando que há  um perigo bem sutil que de tão evidente não é suspeito.  A garrafa quebrou . Foi assim que vi você acompanhando solene o riso de Lívia só porque ela tinha peitos grandes lembrando que eu também tinha mas eu não estava rindo, porque talvez  não fosse Lívia que estava rindo com Marcelo que beijou na orelha, porque eu estava seca.  A brisa ardeu. Foi assim que senti uma enorme  ânsia quando vi que você colecionava os pôsters de Mila atrás da porta cinco anos depois de sua morte lembrando que talvez eu precise partir. O trinco emperrou. Foi assim que vi seus olhos penetrando na blusa de renda de Rosa procurando algo que acabei lembrando que eu tinha mas troquei de blusa antes de sair para não parecer vulgar, no engano de sempre manter os meus olhos bem distantes dos teus quando estamos em bando, pois não sabes de modo algum disfarçar. O chão se abriu. Foi assim que  percebi que estava sem mãos pra chamar quem habitava agora em teu corpo lembrando que meu corpo já estava boiando em alto mar chegando não sei onde, porque já desistiu de nadar.  O mar chorou. Foi assim que Rúbia existiu e tirou o peso dos verbos. O silêncio ecoou. Foi assim que ouvi Íris falando do céu lembrando que eu era amante da natureza mas falava quase nada porque eu estava limitada a ser e desafiava o teu encanto pelo parecer. A roupa mudou. Foi assim que vi que prestavas atenção nas gurias de pescoço e lábio finos lembrando que eu havia passado batom pros semáforos.  A cama esvaziou. Foi assim que dormimos juntos pela quinquagésima sexta vez  no claro da televisão lembrando que quem ama dorme todos os dias da semana, mas só depois. O carnaval chegou. Foi assim que eu vi a tontura tomar de conta de um ser que não sabe o que procura e na hibridez do luto perde-se do que o cura lembrando que eu era bonita, mas não estava pintada de paraíso bélico , nem nua chamando a língua pra cintura. O passo não se estendeu. O sopro da existência divina apareceu lembrando que verbalizar é a arte de quem ainda não morreu.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

POESIA PRA QUEM?




Talvez porque fosse inspiração dos poetas da vila, Lígia andava  sempre de ombros retos. Seu quadril não tinha compasso. havia qualquer coisa entre o fim do cabelo e o começo da dobra do braço que chamava mais atenção que a sua curva abaixo, o espaço entre os peitos era singular; como qualquer outro. Honório prestava atenção na sua sombra enquanto alisava um cigarro no bolso, a distração de quem sabe quanto tempo falta é planejamento.Mas diga-me, como posso convocá-los a saber? Não posso e nenhuma palavra atinge o ápice que o ato defere. Falo pra quem?Quem passa, vai e quem fica é surdo, ouvi dizer que a língua profere o que o coração deseja. Não sei mais  fazer enxerto, ora tiro dos ouvidos e ponho no coação, ora tiro o coração pra calar a boca. Não há um cadáver inteiro quando a composição é alterada depois do crime primeiro. Gostaria de falar de Manoel e Olga, e Luís e Arnaldo, Irene nunca mais vi. Que de tanto tempo sem vê-la não sei mais como vive. A falta é a pressa dos fins. Tenho uma fala só e repito. Não respiro, bufo. Perde-se a fé e o dinheiro no mesmo banco, perde-se a semente assim que se arranja o adubo quando o dono das flores não sacode as calças e a erva vem a tomar de conta dos canaviais. Observo a tudo e não sonho. Arnaldo viu Irene passar e por conta de qualquer coisa que fosse, no meio do cumprimento a sua mão se estendeu até o ombro. Irene desceu a vista pro lado direito e vimos seu queixo fino balbuciar qualquer coisa que não foi dita. As ações de homem o  expõe ao retorno da sua intenção. A proposta é indecorosa e só importa o mistério. Tenho ânsias de  ter de enfrentar o mesmo sol todos os dias.  Não há mais nenhum vestígio a ser examinado, Estamos como estamos e vamos como ela quiser. O desdobramento dos céus está a por um fim nas calamidades súbitas dos dias comuns. O nosso cotidiano é fugir. Há uma graça a ser alcançada e eu juro pelo ventre da floresta que a deusa vai sangrar mas também vai ferir. Irene passou direto de Arnaldo e lembrou que a vingança é um prato que se quebra e faz sangrar. Gosto dos passos de Irene. Olga demora demais quando toma sorvete, fala a Luís da cor que o sol reflete nas paredes da igreja da praça.
-Um leão é meu e outro seu.
-É... pode ser.
Luís deixava escapar sempre  entre as suas reticências que o súbito desconhecido o levara dali por milésimos de segundos.
Irene ia, Lígia passava e dava voltas e sempre estava por ali, na cena, Arnaldo fingia cumprimentos singulares. Manoel peneirava suas culpas até não sobrar nenhuma, Olga bocejava e   vendo tudo isso daqui, há uma convicção apenas: não quero perder meus óculos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

DEVANEIO DE OLGA ( PROSA NA JANELA VISCERAL )

Atalho-me as palavras no espelho de um fascismo incomum. Disse há pouco que as incertezas ardem e que as certezas se dissipam  em cinzas, o que disso não me atentei é que a matéria em jogo sou eu. A inteligência é desamante da esperteza e virse.  Rebelo-me  quieta a ouvir a marcha das  fumaças pro cinzeiro  meu. Me rebelo entre os  campos e guardo todo o cheiro do cumim talhando as carnes do almoço. A cama não posso levar que é fardo, e de peso me basto as pupilas arregaladas cada vez que... Posso escolher entre comer e repousar "espalhitando" os dentes- digo, de palha mesmo e perdoe o neologismo - e posso também escolher ir-me dessa paz que só eu procuro. Apertam as cordas vocais e não temem minha morte que há de ser entre 5 e 6 da tarde. No alaranjamento da pele dos que não dorme. O meu desaparecimento de cá resulta das forças perdidas. Reencontro a linguagem sã e fria. Pensar sim, refletir também, só que depois. Não ganhei uma batalha que fosse, nem a vida que quis e disso foi concebido o maior milagre de todos: a liberdade! Não carrego mais fardos, mesmo que ainda o queira; e não carrego mais lembrança, mesmo que elas me assustem; e não banho na mesma água há muito, há muito tempo dissolveu o suor que seria eterno. O meu latido, o meu ruído passam a soprar os cabelos. Nada mais pode ser feito quando  se percebe o opaco que invade o brilho dos olhos, ainda que negros. Se puder, velho amigo, diga que lutei a minha ideologia como  luta o peixe, com os olhos de implorar água já sabendo o seu fim. Tudo faz sentido, e nenhum risco no sorriso me lamenta mais das coisas que quase. Não temo a eternidade, temo o paralelismo da saudade. Eu vou pra onde não possa mais esperar nada do senhor no deserto. Eu vou para onde não passa um bonde nem me é  feito a pele arder. Estou acima de qualquer vontade agora. Acima de qualquer suspeita passional. Meu grito vem junto, que de mim ficam só  os olhos encarando e nada de voz.. Não por medo, mas por distância dos ouvidos.  Atalho-me as palavras do espelho de um conformismo incomum, sem alarde...

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

DEVANEIO DE OLGA ( SOBRE O MARTELO SEM RAZÃO DOS MÁRTIRES )

Clareado o dia, Olga saiu pra ir até o mercadinho mais próximo, tinha de levar aromatizante de lavanda para sua mãe que àquela hora iria fazer faxina sem hora pra acabar -as boas donas de casa saem deixando tudo na mais perfeita ordem- cogitava a ideia sarcasticamente alinhando à sua partida.
Posto que o mercado vendia cerveja, Olga não se deu ao trabalho de pegar mais dinheiro, levou as cervejas e pendurou na conta de Arnaldo, como fazia desde que andava pendurada em sua perna. Rebolou vagarosa olhando as casas pelos portões que tinham espaços e viu Irene subindo a rua. Evitava julgamentos mas Irene tinha o caminhado de quem tinha um quadril descompensado de formosura. E Carla ao seu lado tinha os seios do tamanho de uma goiaba. Será se é rosa? Ao menos a boca de Carla era, rosa, quase laranja, bem fininha.
- E aí Olga, já vai começar?
-Comecei em 1968, estou só continuando.
-Sempre com a resposta na  ponta da língua, hein?
-Nada... - Olga saiu  com um riso no canto da boca.
Lembrou do dia em que Ernesto - eu, particularmente odeio esse nome, é o típico filha da puta da novela das seis de bigodinho e olho que fecha quando ri- chegou aos berros com Irene na rua por que passado três meses de seu divórcio Irene tinha sido vista com Leonel entrando na cafeteria da rua as Orquídeas.
-É uma puta! eu penhorei o carro para pagar as nossas dívidas e você desfilando aí com outro macho, você é um lixo de mulher!
- Ernesto, pare. Estão todos olhando .
- Mas que canalha - sussurrou Olga deixando escapar seu ódio pela injustiça.
-O que você falou aí fedelha? Vai cuidar da tua vida!
-Ernesto, vai se catar. Você merecia um par de chifres no meio do seu cu.
- Alguém tira essa pirralha de perto de mim.
Daí você já pode imaginar que o barraco rolou até o pai de Olga chegar e chamá-la pra dentro de casa. De onde não deveria ter saído. Cada suspiro de Olga era uma preocupação para o pai. Ela não controlava a língua.
Abriu a porta de casa e se pôs a pensar sobre as implicâncias do não fazer,  se deu conta de que a muito não se dava o trabalho de farejar o porquê das coisas, mas naquele caso queria. Achava válido saber do repúdio de Ernesto, de onde a racionalidade humana tirava razão para encobrir as próprias derrotas. Nesse caso era Ernesto, mas poderia ser Maria. Aqui todos são só nomes.
Abriu uma cerveja para sua mãe que nem conferiu se o aromatizante era de lavanda, pôs o disco de Noel e cantarolou a varrer...
Olga acendeu um cigarro, pegou uma xícara de café e se ajeitou na almofada amarela logo abaixo da samambaia que ganhou de presente de José, pensou em José e no seu riso de irmão. Gostava de ver a fumaça subindo  entre as folhas e tão perto do céu. Voltou a confabular descendo os olhos pela parede molhada da chuva de ontem.
Penso com Olga, que o vitimismo é arma pra poesia e não pra vida. Ora, Ernesto- que poderia ser Maria e ouso até cogitar meu nome, porque não?Pois apologia está fora de cogitação e evito a fadiga- era o homem da casa, um bom homem, calmo, sereno,  racional, pacífico, tinha gosto refinado, era cavelheiro, tímido e de um riso de som peculiar, seria o melhor exemplar da prateleira; noves fora zero, era um Charlatão de si mesmo. Adequando o mundo às suas ambições. O corpo tem de esfriar com quanto tempo? Ernestos, Marias, e toda essa trupe que podem ser sim seres humanos bons tem um peso na aura. O egoísmo. Ernesto foi embora de casa sem dizer uma palavra contra o ato de Irene que  tinha lhe confessado semana passada  toda chorosa que ainda o amava, mas estava tudo rompido, acabado, zerado, destruído. Desde que viu o bilhete de Diana,  o olhar da caixa da padaria que entregava quantas filas Ernesto enfrentou ali com Irene e mais vinte nos últimos anos, e quando atendeu o telefone e era Teresa querendo falhar-lhe "nada demais" às 11 da noite.  Ernesto esfregou na sua cara sua pior e sua melhor face.  Saiu sem dizer nada, desejando-lhe boa vida cordialmente mas pedindo que a mesma não fizesse o que ele fez.  Ninguém poderia ver as feridas de Irene se curando, até que a sociedade inteira tivesse consciência de seu rompimento, assim a memória de Ernesto não precisaria dar explicações sobre a leviana com quem se casou. Onde já se viu, seguir uma vida normal depois de tudo?  Ainda bem que foi embora, por sorte ele não teria uma reputação mais manchada ainda, não é mesmo? Ernestos e Marias sempre tem dois lados. De quem você acha que Irene sente saudades? De que adianta tecer fio a fio sozinha ? A solidão come os miolos da paixão. Ernesto tinha o gosto dos peitos de Virgínia na boca enquanto Irene estava dormindo ali, e esta ainda tinha de passar o período do luto. Ernestos e Marias sempre vão estar bem . Irenes também, mas há um esforço por trás. Irene nasceu do fogo e nasceu pra velejar, e foi assim que Leonel a viu. Como Ernesto fez questão de esquecer entre outras coisas que nem sabe mais o quê.  Sua alma já estava ficando pequena pros vícios afetivos que aceitara, - Depois a louca sou eu- É engraçado, o sofrimento dos homens é sempre bonito, já o das mulheres não passa de puro desequilíbrio. Mas Ernesto havia se enganado. As donas de casa deixam tudo na mais perfeita ordem antes da sua partida, Vê quem pode, enxerga quem não é cego e julga quem que nunca dormiu virado pra parede.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

VOCÊ

eu durmo mas não me calo
Me calo não que a voz veio de graça
Ah, vê se dispensa a tua moral
faz batuque na canela antes de me encarar
Seja gato ou lebre
Venha leve,
quero dizer, revele só o que há
não me dê o trabalho que eu não me dou
Pois bem, estou aqui de passagem
Vacilo bem rodado não merece meu sorriso
eu atravesso os dias no olhar que não é barrado
Alivie o tempo que te é emprestado
E antes de ir, meu bem, meu zen infinito ser
Ache o seu ímpar e desmedido lugar.

INSONE

Dentro dos céus o homem há de encontrar
A aurora de cor igual a pele que faz arder
Desejo mesmo que a dor do zinco quente te marque
Bem tal qual meu peito fere em brasa na distância
A cama continua no mesmo lugar
O corpo sempre vai mudar.

Seu poema.

Era eu porra nenhuma.

CHARLOTTE MAREJA

Respiro fundo enquanto as águas passam
Acima, os peixes.
Nem vejo meus pés. você os vê?
Dou piruetas meio ao oceano
afim de findar  os risos do repuxo
Lembre bem que as palavras não voltam
O juízo afinal, já está por ser mencionado
Todos os planos da fogueira existem
mesmo antes das cinzas
Sei.
Estou  longe, longe
Eu sou o olhar de  Charlotte no meio da chuva.

RENASCER

Os bandidos invadem a casa enquanto passo a catraca
Abraço a vida enquanto deito e recebo a onda.
Sal desce, desce mais um pouco e sara os pés
Qualquer caminho vou, mesmo em descompasso
Sei por onde meus olhos se salvam
Quero de outro jeito agora, outrora
Quero de dentro do peito
É o defeito do sol
Me fazer viver dentro das horas.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

REDENTORA

Trate de levantar o queixo
quando o martelo do desejo cair  no pé
e machucar o dedo
Nada é mais libertador que estar sozinho
no próprio peito.

EMPTY

Vez por outra esfrego as mãos e olho
vejo que há linhas demais vazias
Olho para trás e vejo tudo no caminho
deixei na marra escorrer por entre os dedos
deixei tudo a mercê do destino
Não se pode seguir segurando bagagem por dois
estando sozinho.

Cinzeiro

Pensando, me dei ao luxo
e fumei o último cigarro que deixaram no criado mudo
Percebi que o futuro adeus nos pertence
então ouça o conselho do pássaro taciturno:
Leve só  o que pode deixar pra trás
Tudo aqui flutua e é de súbito
Mesmo que te pareça absurdo.

domingo, 31 de julho de 2016

ESCARRO SOBRE TERESA.


À máquina bufando
E ao caldo de cana saindo na Rui Barbosa
Aos flanelinhas da Miguel rosa 
À Cícero da rio Branco cantando seu próprio nome
Aos coretos e suas meias garrafas
Ao encontro dos rios nos cartões postais
E às casas bonitas do quieto Cabral
Ao céu verde da Frei Serafim
Aos passos silenciosos da Saraiva
Na José santos e Silva em cada esquina um botequim
Aos ranchos e bosques pros homens de todas as idades
À Torquato e à poesia dos que ardem
Aos cafés e cervejas no art bar
E aos diários rasgados na boca da noite
Feliz tarde aos passageiros
que queimam os olhos no Metropolitan
Da cobertura dá pra ver o pôr do sol de Teresina e é de graça o ano inteiro!

Do coração ( Á Punho de Olga)

Se eu quero falar com Deus, estanco os gritos e me vou para o teto da cidade
Olho as cabeças do tamanho dos piolhos, lá embaixo
Tenho por dentro das horas  o olhar desaparecido e posso me doer lembrando...
Cutuco as avenidas e sou levada ao  encontro de Setembro
Dói, e eu não desejo pra ninguém esse aleijamento  que os viadutos deixam quando atravesso as direções da cidade.
Sei, passa. Falo  e cheiro.
Quando me falam assim,   estico e fecho   os olhos num riso amarelo de graça.
Não escutam os violinos de meu peito dentro da noite que quase sempre se arrasta
Passo o dedo no rosto e olho pro céu
Oro em murmúrio...
Desconhece a dor fina que ensurdece, fazendo zumbidos de silêncio da saudade
aquela dona que nunca perdeu das vistas, seu beijo azul. Manoel.

Do coração (Punho de Olga)

Se eu quero falar com Deus, estanco os gritos e me vou para o teto da cidade
Olho as cabeças do tamanho dos piolhos, lá embaixo
Tenho por dentro das horas  o olhar desaparecido e posso me doer lembrando...
Cutuco as avenidas e sou levada ao  encontro de Setembro
Dói, e eu não desejo pra ninguém esse aleijamento  que os viadutos deixam quando atravesso as direções da cidade.
Sei, passa. Falo  e cheiro.
Quando me falam assim,   estico e fecho   os olhos num riso amarelo de graça.
Não escutam os violinos de meu peito dentro da noite que quase sempre se arrasta
Passo o dedo no rosto e olho pro céu
Oro em murmúrio...
Desconhece a dor fina que ensurdece, fazendo zumbidos de silêncio da saudade
aquela dona que nunca perdeu das vistas, seu beijo azul. Manoel.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A VINDA É DOCE

Tão canastrona quanto a expressão pré fabricada de Lobão, criava um pseudônimo além dos campos de visão. Faltava ar dentro da noite, nada ventilava suas dores.
-Que merda!
Pensou passando a mão na cigarreira enquanto apertava o chão afim de apoiar-se nas próprias pernas.
Alguma moeda de insônia cai do bolso quando se sente alguns segundos dentro do calabouço.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

ESTAÇÃO ESPACIAL

Passei o dedo na tinta azul antes de começar a pintar as paredes de dentro
Talvez por isso no fim da tarde eu tenha lavado  a sala com àgua fria
Joy rola uma taça enquanto descanso no chão minha cara abatida
Saudades de você acho que passou,  talvez eu  tenha só  do seu  Vênus em Libra.

terça-feira, 26 de julho de 2016

FOGO NO CÉU

A vista aérea dos pássaros
se confunde entre o fogo e o céu
O azul avermelha o fim da tarde
Entre os fios de fumaça da avenida Pinel.

ESTUPIDEZ


Quando ouvi Gal cantando
Percebi que a soma dos meus suplícios
Não fazia parte da roda viva 
do teu juízo.

LACUNA SOUL

Na hora de atravessar a porta
eu gritei tão fundo
que a cidade ficou surda
e não escutou quando caíram
as paredes do meu mundo.

BONDE

Trabalho de sol a sol
Nessa cidade quente
Na espera do anzol
Enquanto fritam a minha mente.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O que é De César?

Maria beijou Caio na frente do cortejo todo
Inclusive de Manoel
Que gritou a Maurício que a amava
Maurício nem escutou, mas quis a felicidade do amigo
Disse: vá!
Manoel nem lembrou do beijo que Maria deu em Caio
Seu amor era mais importante que a reputação que sua amada destruía aos corredores em que passavam de mãos dadas.
E nesse circo todo entre liberdade e amor
Olga não pudia ser pós moderna.

DEVANEIO DE OLGA (Reflexão sobre as coisas que quase)



Fui pedra colhida meio ao som das britadeiras da cidade
Brilhei nos olhos dentro da noite.
Lapidei os dedos corridos dentro do lençol
-Há algo errado no paraíso.- Disse a deusa no sonho
Ela sempre me avisara de algo
Foi assim que senti tua aura se afastando tanto quanto eu estava pra longe de mim
Minha sina foi te guardar dentro dos olhos, me segurar no riso que te levava pra perto de mim.
Qual o instante em que te dei outra cor que não fosse a do nosso andar?
Caminhou para longe de nós, eu só constatei.
Com ardor te deixo ser senhor do próprio destino se vou-me pras coisas que me fazem ser longe dele. Não tenho cacife pra ser mártir a julgar a covardia dos homens, faço promessas de dentro do coração. Meus olhos só acompanham o que desejo. E o que desejo é o canto nas alturas. O elo que nunca se rompe, a luz da força. Onde o significado ande de mãos dadas com o significante.
Retorno ao meu caminho do fundo da terra
Sou pedra a ser escolhida pra pôr no colar que guarda os corações da cama
Tudo, por enquanto, me é motivo de coçar o nariz nas coisas mais felizes  em que tu não estarás  mais.
Nas noites de xote, mas nas noites de silêncio que estavam por vir,
Tu não estarás mais lá quando o sol clarear nossa pele  que não estará mais apoiada entre nós.
Nos dias em que as catástrofes do mundo abalarão o país tu não vais estar abalado comigo  apoiando os pés na mesa de centro, enquanto abro a geladeira vermelha pra te levar algo e te ouço falar.
Não estarás mais também nos dias em que caírem as tempestades nas nossas famílias, nem quando novas águas cristalinas brotarem.
Não estaremos dentro das coisas que tiramos das nossas mãos e entregamos nas mãos no tempo, pensar nisso é devastador. O que poderia ter sido se não fosse isso. As  sinapses explodem.
Um amigo me disse que beijar os olhos é beijar o que vê e beijar a testa é beijar o que quer ser visto.
Lembrei-me do que quase consegui: te ver.
O mistério é parte da tua essência, disse-me com orgulho. Aceitei. Mas tuas palavras me faziam deslizar, os joelhos não são tão fortes quanto os ombros.
-Corre tuas mãos dentro da noite!
Gritei no sonho que me acordou.
Me desvencilhei da tua existência, descolei-me da tua alma e esse foi o solo mais forte que já escutei, depois de "time" do Pink Floyd.E não foi o  contrário por que tu não estava mais lá, já tinha partido, alçado vôo. Nossos passos caminham relógios diferentes. Aumento a música e deito no tapete ao lado do meu e prefiro quebrá-lo a olhar todas as horas em que não estarei mais dentro do tempo de setembro.
Me empurram a entrar na cabine que me põe de volta num tempo sem ti. Somos todos empréstimos, matrix numa época em que somos despejados e devolvidos cada um a seu caminho. Destino é muito grandioso pra ser isso. Escapamos sem arranhões, porém sinto gosto de sangue. Me recuso a concordar com a ideia de que num segundo perco tudo o que mais me vale de viver, meus sentimentos e sentidos são obrigatoriamente ordenados a mudarem. Sou impotente e escrava das circunstâncias? Não! Me rebelo às deusas que não falam nada, me olham e acarinham meus cabelos, até que durma outra vez. Acordar é pesado estes dias, abro os olhos e me deparo com o abismo. Não sei como cheguei até aqui. Nossa filosofia é vã.
Lavo os olhos e  vou ao espelho nuns passos de readaptar-me com a vida que não é mais a do mês que viria, como faço todas as manhãs. São sessenta e seis dias e pareço não sentir nada.
Atrás de mim, tua imagem não vai aparecer
Tu não estarás mais lá.

domingo, 10 de julho de 2016

A Lucy e nada

Meu surto é ver a mágica
Onde os sóis queimam a minha pestana
sem avisar nada que o futuro traz
e finalmente ver paz no encontro das retinas em chamas
Que se chamam nos universos atemporais.

Devaneio de Olga - REABILITA



Latência torácica no ataúde das maravilhas ou Cabine 610.






O momento em que uma coisa se transforma na outra é espantador. Olga dançava para Benício todas às sextas. E dançaria a vida inteira se ele não tivesse começado a deixar os cupins detonarem o retrato dela de sua cabeça. Benício desmanchava a noite o que Olga costurava de manhã. Se mexia muito e a coberta não aguentara. Olga já estava desfigurada e não tinha mais oportunidades para mostrar o seu balanço. Fumava seu cigarro olhando o rosto de Benício escurecer e adormecer no meio do quarto. Era inevitável que se amavam. Mas a cólera invadia sua casa. Não entendia como aquilo funcionava mas seu coração doía uma dor fina toda vez que se recordava de sua boca beijando os olhos de Benício enquanto esse dormia. E de como o seu rosto ficava quando ela o olhava iluminado pelo abajur laranja, passando os dedos no seu rosto e boca. Ele certamente estava por cima. Uma gota desceu e ela sussurrou soltando fumaça -Os cheiros não morrem. E nesse exato momento a visão se transformava em mais um nó na garganta. Um súbito de sensações num só insight. Como é difícil o desejo de amar. Lembrou olhando a lua pela janela. Era um nó tão igual ao que se formava quando se lembrava do dia em que Benício pronunciou que a chegada de Olga era a continuação das suas vidas causando silêncio absurdo em Olga que sentia seus olhos saltando dilatados e seu nariz avermelhar de felicidade. Benício tinha as costelas quentes e o sorriso que comportava toda a loucura trocada entre os dois. Certamente era o encontro das almas e estes eram nós a serem desfeitos delicadamente pelos mesmos caminhos. Se apegou com Deus como sempre fazia quando o destino fazia seu papel de puxar seu tapete. O amor tem prazo de validade? Olga tinha medo de morrer com a mão no coração a qualquer hora. Na certa estava mergulhada em conservante. Tentava meditar e abstrair, sair de cena. Perda total de tempo. Teve de começar a guardar os discos mas não conseguia, porque de súbito seu coração a levava pros rumos do futuro que fora sonhado e sentido ontem e isso, ainda mais que absurdo a fazia feliz . Por ter existido. E está lá, suspenso no tempo, enquanto o cheiro de Benício invadia suas narinas pela manhã em que ela não reconhecia o teto de sua própria casa. Lidava com aquela transformação também e desempoeirava Belchior nos ouvidos. Um riso sempre acabava lhe escapando. Toda dor é aquecida pela mão que tem de ser. Passou a gostar do ventilador de teto da casa da mãe e repetia frases sozinha. Foi diagnosticada com idealismo agudo e tiveram de ser internados em leitos diferentes. Benício certamente já estava em casa se auto medicando, era teimoso e encantado como quando era criança. Benício a muito não é visto. Olga voltou a ter insônia e aproveita pra ler, se libertava pouco a pouco do vício de conceder ao amor doses letais esperança.


Tarciana Ribeiro 28.06.16

ESPAÇO



Tudo em mim guardo num canto
tudo que demora fica ali, no mesmo canto
minha alma levita no repuxo
escrevo sobre o que sinto, e o que sinto é trêmulo
Meus nervos à espinhos da pele me ferem
quando sinto solidão nos poros da epiderme.

LACUNA SOUL







Na hora de atravessar a porta
eu gritei tão fundo
que a cidade ficou surda e não escutou
quando caíram as paredes do meu mundo.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

PRA TORQUATO

Tenho um peito coberto de pele falha
Meu pobre ser fêmeo calado não rola
E a rua pra quarteto de cinza não cala
Seja o que for, sem palavra, não nasci pra definir.

domingo, 8 de maio de 2016

BREVE PASSAMENTO DIÁRIO

A tarde desci a rua que tinha cheiro de bolo de cenoura. Incríveis ondas que se comunicaram com o meu olfato tiveram o poder de emudecer o que meu coração falava no caminho de volta. Não pudia escrever poema com essa sensação, queria prosear e nem assim consigo expressar. A tarde laranja, o céu incendiando as pupilas de todas as cores da cidade, é preciso olhar pra cima.
Não quero ter seis anos de novo, não peço muito, mas choro todos os dias pelas coisas que ganhei. Uma pá de coisas roubam todos os dias do meu travesseiro e não posso gritar. É pro meu bem. Disputam as miudezas que enchem meu coração pra quebrar depois. É para o meu bem. Nunca tive cuidado com brincos, perdi todos. Abri a porta de casa. Tenho tudo que posso perder. Mas não vou. É emprestado. É para o meu bem. Me despeço das coisas que beijo todos os dias e guardo no cheiro do café ralo que eu faço, na cadeira quebrada do terraço. É para o meu bem que tudo se acaba. Deixa ir, deixa ser, deixa estar, deixa pra lá. O desapego esfria a minha alma. As paralelas se cruzam no horizonte, sinto o peso dos dias. Ainda que guardasse as fotos pra depois rasgar não seria igual a boiada a esmo. Lembro-me para o meu bem das coisas colhidas. A solidão sempre me recebe de volta. Para o meu próprio bem. Tenho oito estrelas no meu quintal e muita coisa pra falar. Ouvi bastante. Entrei pelo cano e fui jogada ao ser descoberta de volta pro mar. Fiquei a deriva para o meu próprio bem. Embelezo meus fios e entrego pro vento arrumar a seu gosto. Dou meus olhos ao que meu coração sente alegria em ver. Respeito minhas pernas e vou. Tudo dorme a algum tempo. E temo o costume póstumo insone. A essa hora ouço os mosquitos fazendo música. Seria eu, expectadora da minha própria existência sem extensão ou conclusão pacífica que me tragam a paz do sono de uma criança? Me sinto verde mas não tenho mais vontade de arrastar estas perguntas. Desconheço os caminhos mas vou. Faço um pedido aos céus e não tranco a porta. As luzes se apagam, é preciso olhar pra lua. Para o meu próprio bem.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

GENUÍNO

Do meu lado eu via enquanto acordada
a vida passsando
E eu te digo
ainda bem quue 
algumas coisas não mudam nunca.

terça-feira, 19 de abril de 2016

POR ENQUANTO

O sol se põe no horizonte inalcançável
a mulher  que vê se aproxima cada vez mais
seus passos estreitos que  não querem voltar
estão no rumo das ruínas
em  frente, na intenção...
O tempo é a representação da ironia
de prosseguir e sempre perder o que se  tem nas vistas
O horizonte exato a olho nu 
consegue encantar com as suas armadilhas
ilusão de ótica multicoloridas e chama
Eu, nas distãncias de ontem, não  paro de caminhar 
e a muito não vejo mais os passos que dei
busco mesmo é não buscar
cruzo os dedos e aqui sento e tomo café
Tenho paz nas mãos 
Algumas coisas devem ser entendidas
O horizonte não se move, não se alcança
Vejo de longe e entendo o sinal
vejo também que não há mais chances de voltar pro mesmo lugar
No presente estou
costuro os fiapos dos dias e me deito
e com ele.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

INSIGTH

Acordo de dou três passos até o espelho
Lembro das horas que virão
e inspiro do fundo dos desejos
Depois que vejo o que não busco
dou mais cinco passos até o banheiro
Vou sem fazer barulho
Acontece que do lado esquerdo tem sol
e o riso no banheiro branco que me escapa os dentes antes de outubro
É o lapso matinal
Fagulha sépia
De quem não quer do albúm queimado
um só retrato do descuido.

DERIVA

O tempo é água correndo
às vezes até leva a gente
Alguns olhos esquecem o que viram
o meu coração em alto mar...
Só sei que nada.

terça-feira, 12 de abril de 2016

EDITAÇÃO



Falei com Deus e ela
Caminhei sob os espirais
Com as pernas trêmulas: ai, se eu deslizo!
Olho minhas mãos evocando as estrelas
A mesma forma que contempla as costelações
Não há medo em deslizar no circulo
Visto que se hoje estou aqui
Amanhã disparo na atmosfera do infinito
Me prolongo nas coisas a frente
tento explicar o rodopio absurdo
Falo de coisas que só senti
Apoiada no basculhante
Contando causos do passado dilúvio
Me proponho a me alinhar ao destino
já que há incerteza por todos os lados
Espalho avisos na estrada
Pois nunca escutam quando alerto sobre buracos
Deixo em mim uma tormenta adormecida
Abandono a sala do projetor
Rebobino o filme assistido
Me proíbo de dar spoiler ao expectador
Vejo as vidas desgovernadas
entre carnes e fatos
O coração dos animais aos seus instintos pertencem
A cabeça dos homens é terreno minado.

RIMA DEFERIDA



Não me chame de poetisa


Se meu nome por conveniência visita sua boca
mas pelos seus olhos eu nunca fui lida


Acho graça em ser alvo de uma liberdade de língua comprida
onde nem por um minuto me sinto vítima
Pois dou privilégio em ter as vontade simples cumpridas


Pra quem não vive e precisa ser socorrida
eu lamento não ter medo das palavras mal ditas
Pois eu sei que uma vida assim ferida
Deve gerar assunto na mesa de gente vazia

SIGNO SOLAR



Quero
e quando quero grito
Mas quando não ouço eco
nem resposta do universo
                                       [afogado em paradoxos infinitos]
Dobro meus não's entre as frestas
do alheio talvez
Dou meia volta e calada fico.

terça-feira, 8 de março de 2016

TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER

Dei umas voltas sozinha como quem não varia, entre  os becos desconhecidos por quem só frequenta a calçada do vizinho e vi: como sei desse costume? O mesmo vizinho, o mesmo calção, a mesma hora.
Pego essa informação e avalio.
Me assusto com a conclusão dos fatos.
É isso Manoel, não tinha como saber!
Topamos um no outro e nem sequer nos demos ao trabalho do conhecimento, do apelo diário significativo para uma ruptura social e acasalamento de ideias inofensivas da nossa aura. Pelo instinto arrumamos a cama e pronto, trago pães na volta.
Quanta pretensão, Deus. O amor é um cego louco e desesperado.
Cá pra nós, levamos o sentido literal a sério.
Olha só, construir uma base em cima de um diâmetro mais estreito que dois dias. Bem feito!
A pressa é inimiga das coisas perfeitas, eu te mostrei  naquela música que você não fez questão de escutar. É isso, somos todos inocentes, dimensionamos as nossas expectativas cuja inspiração era a falácia doce daquele dia, sim. Foi assim. Descobri às 15:20 do dia oito. OITO. OITO Manoel, as letras de meu nome em soma com o relógio. Há tanta loucura no paraíso e esse é o álibi do esquecimento dos homens?
Não falamos "gostei de  te conhecer"
Não dissemos uma só palavra que evitasse o tsunami de outras palavras e todas as catástrofes sobrenaturais que as mesmas deixariam, deles a maior devastação: o silêncio.
Como ousamos brincar de adivinhação, como ousamos presumir as intenções e reações deixando escapar exatamente o que mais nos ligava? Nosso eterno conhecimento. Conhecemos os demônios um do outro sem nem ao menos evocá-los para uma prévia do que viria. Não houve tempo para decisões nem análises. Decretos empilhados um a um fizeram seu papel: destruir a liberdade de se expressar. Não houve calma e abusamos da coragem. Eu sempre soube que a ordem dos fatores alterava o resultado, os gritos na cortina e os socos na parede vieram mais rápido que o sim ou o não.
Duas cargas emocionais desconhecidas só podiam dar nisso: explosão.
-Olga, veja bem. Nosso tempo talvez não seja esse.
-Bom, as suas conclusões crédulas na magia do desconhecido e toda essa sua pressa em correr pro nada ainda  podem ser a sua salvação, criatura mítica e suficiente. Eu, coração e certeza do olhar, antes de levantar a cabeça e olhar mais a frente,  precisava te dizer.

quarta-feira, 2 de março de 2016

INVERSÃO

Quando se faz do coração
Mobília pros filhos
Se entrega a direção nas mãos
De quem faz tudo ter cor e sentido

Quando esse alguém fala no caminho
Se presta atenção em tudo
Acredita-se em deuses
Encontros, destinos...

Quando acaba a gasolina
Em uma parte da estrada
Dormimos em qualquer canto juntos
Pra não ficar a mercê da madrugada

Quando amanhecer o dia
Não caia na estrada da sabotagem
Segure a mão pequena e forte da certeza
Não troque o coração pelo amargo da miragem.



terça-feira, 1 de março de 2016

DEIXO IR

Sabe-se muito pouco sobre pérolas e porcos
E por isso estive atenta a todas as arestas brilhosas dos olhos
Olhos de jaspe horizontalmente brilhando
a inflação carnal nunca me fez confundir aquele valor
Aqui dentro vejo os ponteiros cada vez mais enlaçados
Dia após dia
Lembro que o templo do infinito não pendura dores
Então te liberto no vento
Resgato das sombras outras cores.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Nós na garganta, sozinho o ouvido.

É chegada a hora
de ouvir  a divina comédia humana respirando o grito
pra tentar não me sabotar ouvindo as orações do nosso disco.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

AVISO

Amor  é bicho bom
Mas entre  em desespero
Quando o mesmo não se acabar nem ficar pouco
Mesmo diante de um indício muito suspeito.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O QUE ME SEI

Percorro as janelas altas levantando os pés
já que muro nenhum me apetece
Minha pequenez farta se contenta com a pupila que salta
Meu andar virtual anda esbanjado
Me derramo sem escrúpulos e o universo é visto como avulso
A baderna começa com quem puxa o coro
Jogam o carro para cima de meu corpo
E há batentes que me salvam por sorte ou azar?
Vejo os ombros ligeiros
E eles não se viram em nenhum momento para me encarar
Que há de errado com a cor de meus olhos?
vão-se assim que a serenidade negra chega
Atrás de uma ardência, e cá pra nós toda ardência é bonita
e tão passageira que o que posso dedicar é somente a cor de meus poros em cima do tapete cinza.
Arrecado sopros e mais sopros com intenção de soterrar
Minha casa não existe, minha casa é.
Dizem todas as bocas cheias de razão:
-Como caminha com tantas pedras no sapato?
Convenientemente surdos
Reparam tanto nos gritos que não escutam quando falo
-Sempre andei descalça nesse asfalto.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

SEXTO SENTIDO

O problema é o vestido ser azul
e o balançado das pernas ser confundido  
no meio da tarde alaranjada da Frei Serafim
Em que a posição dos postes queriam dizer algo 
Só por que você estar surdo

O problema é o meu cabelo lilás
Fazendo alarde toda manhã
Em que os mendigos da Miguel Rosa querem paz
E só eles vêem a minha cara na janela do ônibus
Por que essa mesma no caminho não se desfaz

O problema é a semente que se planta
Sabendo o que vai germinar
E dar aval pra erva daninha 
Dar fim na colheita antes mesmo
da terra molhar

O problema é ignorar os avisos dos signos
E querer salvar o próprio mundo
Abrindo as costelas pra parir 
o anjo torto e caído que vai ser crucificado
Só de advinhar descuido.