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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

POESIA PRA QUEM?




Talvez porque fosse inspiração dos poetas da vila, Lígia andava  sempre de ombros retos. Seu quadril não tinha compasso. havia qualquer coisa entre o fim do cabelo e o começo da dobra do braço que chamava mais atenção que a sua curva abaixo, o espaço entre os peitos era singular; como qualquer outro. Honório prestava atenção na sua sombra enquanto alisava um cigarro no bolso, a distração de quem sabe quanto tempo falta é planejamento.Mas diga-me, como posso convocá-los a saber? Não posso e nenhuma palavra atinge o ápice que o ato defere. Falo pra quem?Quem passa, vai e quem fica é surdo, ouvi dizer que a língua profere o que o coração deseja. Não sei mais  fazer enxerto, ora tiro dos ouvidos e ponho no coação, ora tiro o coração pra calar a boca. Não há um cadáver inteiro quando a composição é alterada depois do crime primeiro. Gostaria de falar de Manoel e Olga, e Luís e Arnaldo, Irene nunca mais vi. Que de tanto tempo sem vê-la não sei mais como vive. A falta é a pressa dos fins. Tenho uma fala só e repito. Não respiro, bufo. Perde-se a fé e o dinheiro no mesmo banco, perde-se a semente assim que se arranja o adubo quando o dono das flores não sacode as calças e a erva vem a tomar de conta dos canaviais. Observo a tudo e não sonho. Arnaldo viu Irene passar e por conta de qualquer coisa que fosse, no meio do cumprimento a sua mão se estendeu até o ombro. Irene desceu a vista pro lado direito e vimos seu queixo fino balbuciar qualquer coisa que não foi dita. As ações de homem o  expõe ao retorno da sua intenção. A proposta é indecorosa e só importa o mistério. Tenho ânsias de  ter de enfrentar o mesmo sol todos os dias.  Não há mais nenhum vestígio a ser examinado, Estamos como estamos e vamos como ela quiser. O desdobramento dos céus está a por um fim nas calamidades súbitas dos dias comuns. O nosso cotidiano é fugir. Há uma graça a ser alcançada e eu juro pelo ventre da floresta que a deusa vai sangrar mas também vai ferir. Irene passou direto de Arnaldo e lembrou que a vingança é um prato que se quebra e faz sangrar. Gosto dos passos de Irene. Olga demora demais quando toma sorvete, fala a Luís da cor que o sol reflete nas paredes da igreja da praça.
-Um leão é meu e outro seu.
-É... pode ser.
Luís deixava escapar sempre  entre as suas reticências que o súbito desconhecido o levara dali por milésimos de segundos.
Irene ia, Lígia passava e dava voltas e sempre estava por ali, na cena, Arnaldo fingia cumprimentos singulares. Manoel peneirava suas culpas até não sobrar nenhuma, Olga bocejava e   vendo tudo isso daqui, há uma convicção apenas: não quero perder meus óculos.