Quem sou eu

Minha foto
A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

domingo, 27 de setembro de 2015

Assinado Eu.

Escrevo porque não toco
Tropeço porque não penso
Quero
Nada posso
Fêmea
Nada efêmera
E do meu lado uma escrivaninha

Quem nunca? (Sobre esfarrapos)



Uma cachaça bem tomada
Faz a memória reprimir
Algum fato desajustado
Que você fez antes de dormir

LABUTA



Falando inconscientemente

Ela dorme

E suspira

Um suspiro como quem diz:

Eu só existo depois do meio dia.

Teoria de arquibancada caloura

Estavam todos errados
Quando decretaram que amor
Eram dois humanos amarrados
Mentiram feio
Quando disseram que amor
Tinha que chegar cedo
Mentiram mais ainda
Quando cruelmente conceituaram o amor
Fazendo vudu com o destino
Da liberdade de dois corpos nus
Esse ato falado e nunca sentido de fato
Ainda vai levar eles a um abismo
Quando descobrirem que o amor
Acontece todas as horas
Em que o cheiro do defeito do outro
Provoca arrepio

Um quarto.



Aqui dentro da cena
Resto de pólvora
Limpem as digitais
Isso não me apavora
Cena de crime local
Povoado por quem sinto perto
Sinto angústia total
Mas não morro de tédio.

Voyeur, Voilá!




Falar o que pensa
Sem moldar as palavras por hipocrisia
É considerado veneno hoje em dia
Mesmo que se fale nas dez caras envolvidas
Como se ninguém nunca tivesse desenrolado a língua
Uma vez sequer na vida
Eu não posso, com essa ruma de gente desentendida
Que amadurece quando é conveniente,
Ou quando não quer perder a partida
Não entendo xadrez nem poker,
Arrisco mesmo só na vida
Desse jogo onde as cartas estão na manga
estou doando todas as fichas pra quem fica.

ALFORRIA

O meu lugar é onde o outro conheceO meu som tá praça que nunca vai parar
O meu dom é não pestanejar
O meu tempo é quando disse Vinícius
Eu preciso conhecer o zé daquela quitanda
Preciso cantar com joão, ladainha na bahia
Preciso conhecer o baião, o chimarrão
Eu preciso inverter os sentidos das avenidas
Eu preciso cair na ocean drive hoje
Renascer em baixo guandu amanhã
Terê, sina do meu coração
Não pense que te desprezo
Mas preciso sair da barra da tua saia
Antes da poesia virar vida a sete palmos do chão

Cordel do bláblá

O poeta é romântico
A poetisa é desvairada
Coitado de quem pensa isso
Os dois tem a mesma estrada
Se tratando de ilusão
Amor e outros clichês
Se alguém domina mais eu tô querendo é saber
Tá difícil pra nós dois
Lidar com essa situação
As redomas artificiais
impedem ver o coração
Corações esses de artérias de ferro
Pele de zinco quente
Queimam de madrugada
De manhã, inverno
Eis o mistério
De uma gente que exala amor
E foge do bichinho como quem tivesse pavor
Os relógios são egoístas
Esfregam na cara o que você vacila.

À prova de som.




Você que julga quem atenta sobre a própria vida

Não imagina a infelicidade desmedida

Que é ver os dias passarem

E o coração que só quer afoitar de alegria

Se empoeirar, virar casa vazia.


Devaneio de Olga parte 4: Efemeridades

Olga passeava com seus chinelos arrastados enquanto a lua era vista como nunca ontem, haviam algumas manchas no meio do céu e Olga ficou a pensar... fumou um cigarro, fumou dois e sentou.
Quantas luas em fases mil existem por aí brilhando de longe, só de longe? Quanto eu não tenho que chegar perto pra que o brilho não desapareça? Lembrou de um trecho de Buk que dizia " o amor é uma névoa que se dissipa na primeira luz de realidade." sussurrou pra lua... 
-Esse velho não sabe nada! - Disse Caio
-É por isso que eu queria ter visto a lua sozinha. - Disse Olga segurando a carteira de cigarro se levantando.
- Ah, já vai? Vai tarde. Olha, fica aí nesse teu mundo perfeito. Ingênua... ingênua nada. Imbecil!
Olga não escutou uma só palavra enquanto olhava bem nos olhos de Caio
E saiu como quem aprende a respirar sozinha.
A lua continuava a ser contemplada entre as faces foscas da cidade,  os mendigos olhavam pro esgoto distraídos.
Caio não é um monstro, talvez o mais lindo deles se fosse, olhos de amêndoa e pêlos de sol, mas não tinha brilho, Olga tentava ver entre os dentes perfeitos, Caio era o tipo de gente linda, do sorriso emoldurado pra admiração mas no fundo era banguela, qualquer coisa ficaria bonita em Caio. Até ele mesmo.
Caio nunca esteve por aqui e fez questão imensa de escorrer pelo ralo antes mesmo de borrar o batom vermelho de quem só passa quando quer que borrem. Há tantas luas por aí, pensou Olga.
São trinta fases, trinta vozes, trinta corpos, um de brinde quem sabe quando, são trinta.
A beleza de rabo de olho encapetada pelo que Caio nunca viu foi seu maior desengano, sua morte, a masmorra do prazer em idealizar imagens e gozar sem dó  muito menos piedade, Caio não dava um ponto, só nó cego, se perdia no meio das crateras lindas.
Olga arrastava o chinelo, a saia e os cabelos pelos cantos onde Caio se entorpecia vendo todos os demônios que ele não viu enquanto estava de olhos bem abertos pra cima do aperitivo das ruas : a lua minguante. A que parece sorriso, mas é ferro quente.
É por isso que Caio só serve pra iniciar parágrafos, pensou Olga deixando ele fervendo entre os ferros da ponte com Safira e Cássia, luas cheias e afetuosas a qualquer espécie de  Caio. Flores de delicioso aroma artificial e um riso concordante com tudo, bem canibal.




CICLOVIDA

João gostava de Maria
Que não gostava nenhum pouco
De perder José de vista


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

LAMA SOUL

Caminhando sem rumo no mangue
A escuridão me pegou
Cavei mais a fundo
Encontrei Luz
No lamaçal interior.

Corpo de Sol

Na tentativa de desnudar a alma
Vi que precisava na verdade de muita calma
Deitei a pensar
Quando o sol fez luz nos pêlos
Daquele corpo jogado no banheiro
Atravessando basculhante
Sem forças e vontade
um saco fêmeo deitado
quer pensar
Derramando as partes nos azulejos
Nas dobradiças do descansar
Canto que reparte
A orquestra carnal
A vida vira arte
Desde que a inspiração seja real.

MATILHA

Os adeptos ás rupturas afetuosas prematuras
Manjam muito mais da solidão
do que os mendigos da rua
Espantam as chances de matar o tédio
Rompem abraços
olham sozinhos pra lua
Em vão perambulando dentro do próprio labirinto místico
Deixando escorrer entre os dedos
As melhores criaturas.

ANTITUDO


Os que rastejam rumo a coisa alguma
São bem alimentados por alma nenhuma
Incomus perolados
Pelos lados cheios de vômito
De mãos dadas com o afronto
Ideais infiltrados no subúrbio imaginário
Só por dizer, línguas de belos modos...que cansam!
Dados apontam nova geração
Cerca de milhões de cabeças rolando
Sem sangue, sem pulso, sem coração.

SARNA

Passeando pelos cordões da insônia
Rasgando umbilicalmente qualquer ilusão bamba
Atrofiando as inverdades...
-Que seria verdade?
O que não se pode ver de outro jeito
Desilusão?
Pois bem, alguém pode apagar as luzes
desse teletransporte infernal.

SPOILER

Nesses tempos sem lucidez
Se fazer de doido é a única saída
Pra quem não enxerga nada que fez

Á menina mais fascista da cidade

Quando você der um teco
Quando você der um tapa
Quando você enfiar o pé na jaca
Quando você tiver um passamento
Não ligue pra sua mãe
Por que ela não sabe quem é você
Fora o dia do seu nascimento.

E não os que dormem

Nem sei bem
A hora que esta luz se alojou em meu ser
Parindo este ser que nada possui
Que nada alcança
Mas os espíritos que vivem em festa
Só bebem vida
A esta hora, em qualquer avenida
É esse que dança.


27.03.14

VIOLADAS




Há mais coisas a se lamentar
Entre as coxas de uma mulher
Que o murmúrio dos muros famintos
e perigosos tenham dado fé

Devaneio de Olga (Episódio I) - atolada na empulheta

Deitada no tapete do avô, Olga arranha as paredes tentando entender o que nunca ninguém vai deixar de pensar. O peso das coisas parece estar dia após dias vencendo a anorexia do cotidiano, abalofando os destinos mútuos da cidade. Balança os pés entre tragos, tentando fazer desenhos com a boca, mas essa era torta. Olga se coça a se perguntar por quê diabos entra no teletransporte que nunca foi dela, andando entre os mundos que talvez nunca foram deles.
"Ô tormento besta!"
Disse seu França enquanto botava as cervejas pra gelar na quitanda.
Olga falava tanto em sabotagem que estava a ponto de penalizar seus próprios freios por uma viagem usada pelo combustível alheio que já foi até gasto.
Mas o que faríamos todos nós, me digam... se não sentir? Sentir é o resultado de tudo que não foi, é, continua e cessa. Vi Olga todos esses anos andando na rua com olhos famintos de horizonte de quem olham pro nada se perguntando as mesmas coisas, nunca obtive resposta. Cada porto, um cais, um tesouro.
Um beijo, outro beijo que foi sexo de outro sexo na mesma cama com outro lençol do mesmo copo com as mãos derrapando nas mesmas paredes e os estalos dos beijos ecoados no mesmo teto de outra lua solta na mesma avenida de outro ano.
Eu continuo a desentender Olga . Mas sinto como se fosse eu.