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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

LAMA SOUL

Caminhando sem rumo no mangue
A escuridão me pegou
Cavei mais a fundo
Encontrei Luz
No lamaçal interior.

Corpo de Sol

Na tentativa de desnudar a alma
Vi que precisava na verdade de muita calma
Deitei a pensar
Quando o sol fez luz nos pêlos
Daquele corpo jogado no banheiro
Atravessando basculhante
Sem forças e vontade
um saco fêmeo deitado
quer pensar
Derramando as partes nos azulejos
Nas dobradiças do descansar
Canto que reparte
A orquestra carnal
A vida vira arte
Desde que a inspiração seja real.

MATILHA

Os adeptos ás rupturas afetuosas prematuras
Manjam muito mais da solidão
do que os mendigos da rua
Espantam as chances de matar o tédio
Rompem abraços
olham sozinhos pra lua
Em vão perambulando dentro do próprio labirinto místico
Deixando escorrer entre os dedos
As melhores criaturas.

ANTITUDO


Os que rastejam rumo a coisa alguma
São bem alimentados por alma nenhuma
Incomus perolados
Pelos lados cheios de vômito
De mãos dadas com o afronto
Ideais infiltrados no subúrbio imaginário
Só por dizer, línguas de belos modos...que cansam!
Dados apontam nova geração
Cerca de milhões de cabeças rolando
Sem sangue, sem pulso, sem coração.

SARNA

Passeando pelos cordões da insônia
Rasgando umbilicalmente qualquer ilusão bamba
Atrofiando as inverdades...
-Que seria verdade?
O que não se pode ver de outro jeito
Desilusão?
Pois bem, alguém pode apagar as luzes
desse teletransporte infernal.

SPOILER

Nesses tempos sem lucidez
Se fazer de doido é a única saída
Pra quem não enxerga nada que fez

Á menina mais fascista da cidade

Quando você der um teco
Quando você der um tapa
Quando você enfiar o pé na jaca
Quando você tiver um passamento
Não ligue pra sua mãe
Por que ela não sabe quem é você
Fora o dia do seu nascimento.

E não os que dormem

Nem sei bem
A hora que esta luz se alojou em meu ser
Parindo este ser que nada possui
Que nada alcança
Mas os espíritos que vivem em festa
Só bebem vida
A esta hora, em qualquer avenida
É esse que dança.


27.03.14

VIOLADAS




Há mais coisas a se lamentar
Entre as coxas de uma mulher
Que o murmúrio dos muros famintos
e perigosos tenham dado fé

Devaneio de Olga (Episódio I) - atolada na empulheta

Deitada no tapete do avô, Olga arranha as paredes tentando entender o que nunca ninguém vai deixar de pensar. O peso das coisas parece estar dia após dias vencendo a anorexia do cotidiano, abalofando os destinos mútuos da cidade. Balança os pés entre tragos, tentando fazer desenhos com a boca, mas essa era torta. Olga se coça a se perguntar por quê diabos entra no teletransporte que nunca foi dela, andando entre os mundos que talvez nunca foram deles.
"Ô tormento besta!"
Disse seu França enquanto botava as cervejas pra gelar na quitanda.
Olga falava tanto em sabotagem que estava a ponto de penalizar seus próprios freios por uma viagem usada pelo combustível alheio que já foi até gasto.
Mas o que faríamos todos nós, me digam... se não sentir? Sentir é o resultado de tudo que não foi, é, continua e cessa. Vi Olga todos esses anos andando na rua com olhos famintos de horizonte de quem olham pro nada se perguntando as mesmas coisas, nunca obtive resposta. Cada porto, um cais, um tesouro.
Um beijo, outro beijo que foi sexo de outro sexo na mesma cama com outro lençol do mesmo copo com as mãos derrapando nas mesmas paredes e os estalos dos beijos ecoados no mesmo teto de outra lua solta na mesma avenida de outro ano.
Eu continuo a desentender Olga . Mas sinto como se fosse eu.