Quem sou eu

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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

domingo, 20 de dezembro de 2015

RECADO

Chore até as cinco da manhã se for preciso
Acenda um cigarro no terraço de casa
As nuvens vão passar na lua
Vai ser a última vez, eu prometo
Você vai entender que bem querer é maior que tudo
E vai  chutar a dor do apego lá de cima do muro
Não procure entender as razões
As coisas nem sempre tem sentido e o que tem ainda é absurdo
Conte até três se soluçar
Não vai doer mais, jájá vai sarar
Deite na cama e feche os olhos
Você vai entender todas as músicas e todos os clichês
E vai saber que esse recado tinha que ser dado dessa forma pra você
Não jogue ira pro destino
Aceitar e enxergar é o melhor caminho
Conte até dez, lave os olhos e respire fundo
Todo o véu arrancado é pra te mostrar o melhor do mundo.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Conversa de calçada norte-sul

-Gosto de seus três corações verdes.
Disse Tassiano fazendo um barulho estranho com a boca pra fumaça durar
Sentando numa das praças de Porto Alegre, contemplando os espaços entre as folhas e o céu
-Há quem pise nos três.
Disse Olga com a boca amarga da noite passada, deitada em posição de quem pede abrigo.
O cheiro dos dedos ainda a atormentam mas sua reza é forte.
-Ontem eu ia fazendo uma loucura.
-Ainda bem que não fez. E o que fez pra não fazer?
-Nada. Há muito tempo eu não fazia isso:nada.
-Ás vezes é o melhor a se fazer...


CATARSE TORÁCICA

Deve haver algum lugar entre o que foi dito e o que foi feito que um dia eu vá visitar, mas não quero.
Com certeza tem um lugar lá pras bandas de bom jesus em que eu vá entender a tolice alheia em proliferar  e ramificar todos os olhares às seis da manhã pra morrer seis da tarde. Há de haver um louco pássaro que sussurre no meu ouvido uma só palavra que tire o peso da interrogação das minhas costas. Há de ter uma razão pra todas as filosofias vãs que eu acreditei existirem por ter montado o seu próprio personagem de par ideal com a sua ajuda e todo um material divino e fui tão livre que a peça toda era minha, inclusive o drama. Há de ter um lenço no meio do caminho ou um jornal dobrado com alguma mensagem subliminar, uma ligação no fim do expediente que me faça entender o quão humanos somos. Há de ter um dia em que os corações parem de se emaranhar e transformar o fígado num eterno pardieiro e calabouço de tudo que não existiu. Há de ter um sol diferente quando eu passar na frente daquele viaduto outra vez. Há de ter pra onde eu olhar quando não quiser sentir vertigem, mesmo que não seja pros teus cabelos quando atravessava o sinal pra ir comprar cigarros. Há de ter um lençol que eu não precise lavar com ilusão de que todos os cheiros saíram dos dedos, porque sempre vem outros cheiros e a merda toda sempre esteve na frente do ventilador e eu tirei pra não te sujar. Há de ter um travesseiro castanho, e amanhã um ruivo pra cada coração verde que é colhido, Há de ter paz entre as lacunas que ficaram tão vazias quanto meu ventre, que meu coração cheio foi roubado e jogado por aí. Há de ter um dia uma luz no coração que foi embora com a facilidade de ir embora de um metrô lotado. Há de ter um dia em que um livro me baste e o manicômio e os cigarros sejam tão patéticos quanto a bandeja que eu entreguei na manhã do dia cinco . Há de ter mais cem dias pra que meu nome morra de vez, que se não for pra não ser falado porque eu respondia pelo apelido que tu botaste  não será também falado, igualmente espalhado como os delas por aí. Há de ter um novo apelido e um novo chaveiro pra mim também, um dia... que estou farta só de pensar e acho que a solidão nestes dias me apetece tanto quanto teu video game depois do expediente. Há de ter amor livre pra te receber nos olhos com nome de outra pedra  pros quatro cantos e o jogo de cintura que eu não tive por anos, que não sou desprendida e faço questão de nunca ser. Há de ter uma clareza que me faça entender porque você foi tão conivente quanto a menina do filme. Há de ter mais de cinquenta receitas e escutar aquela música do Belchior já está se transformando em outra coisa que não machuca. Há de ter uma luz que nunca se apaga. Há de ter.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

QUEDA

Desci no ponto do destino chamado
E fui até onde os pés sumiram num rastro ligeiro da madrugada
Meu coração pousou na janela
Ninguém voltou
Enquanto embalo e canto
Sonhos invadem meu quarto
Noite passada dormimos na beira da estrada
protegido pelos próprios olhos e luz
De manhã, deserto e silêncio
Alguma força me ensurdeça
Que meus ouvidos não distinguem bem
Quando os passos vão se distanciando  na estrada.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Pode falar

Que na sua sopa eu  nem fui mosca
e de manhã meu ronco era insuportável
Que eu bebia demais e você é tão correto
E eu ali deitada imaginando você me contemplar
Enquanto no seu celular uma nova ligação de meia hora
Que eu sou louca e todo mundo já sabe
Já tá todo mundo cansado de saber
Que as visões sobre o mundo e suas lisergias eram divergentes
Mas só depois dos cem dias
Que essa poesia é coisa de mulher rejeitada
Tudo muda da noite pro dia
Das 4 da manhã pras 7, a fim de precisão
faltou dizer que eu não chorei pelos cantos
e isso é ofensa ao teu ego
Faltou você ser tudo o que pregava
Mas as pessoas não são o que elas fazem
E eu devo ter sido  mais um projeto
As pernas nunca foram azuis, era só a tv
tocando a mesma música do mês seguinte com outras pernas
Enquanto vi mar, mato e estrada
Você por aqui no seu ciclo vicioso, montando uma nova escala.

CONFESSIONÁRIO

Vejo a lama caindo  por dentro do jardim de inverno
e não consigo ignorar o abstrato
De onde você tirou pra jogar aqui?
Quantos corpos dentro dos azulejos você já enterrou?
É um grito de socorro?
Vida de orvalho que fica doce amanhã
Não espere pra se ancorar no cais de luz
Os ponteiros param de trabalhar quando bem entender
Todas as respostas pairam na pele do cordeiro que não dorme
Qual dobra arrebentou tuas raízes?
Mas tudo bem, você tem sempre uma mão na testa
E nos olhos tantos dedos
Criatura negra, mistério dos céus
O que você faz aí do lado da mesa colorida calado?
A vida é uma sala com uma mesa quebrada no canto
Esperando os dentes restantes caírem

domingo, 6 de dezembro de 2015

PARTO

A casa era nossa
Passei os pratos a limpo
Juntei todas as cinzas do caos passado
pela pureza que nasceu
Quando meu corpo se unificou aquelas paredes
entendi a que vim
E meus pés já tinham decorado  o caminho sem nenhum sacrifício
Era do jeito que fosse
Eu tinha atingido o ápice celestial do sentido da vida
O conjunto do ser era meu equilíbrio e o mundo continuava caindo
Mas éramos sobreviventes, éramos juntos e resistentes
Éramos mergulho em meio a toda aquela superfície de lodo
Convictos de que havíamos nos encontrado no meio do caminho
o encontro dos mortais de auras ímãs foi interrompido nessa vida?
Ele já respirava antes de mim e quando vim ao mundo ele já estava pronto
O que senti era inédito,  mas unilateral
Fomos passear no desconhecido de mãos dadas como sempre
Como no segundo dia em que nossos corações se beijaram e eu respondi :sim.
Saltei de paraquedas e esqueci da cordinha.
O que eu mais temia aconteceu...
De longe parecia bosque mas era manguezal e ele foi por lá, curioso.
-Eu te chamei pra ir pras dunas, que você faz aí?
-Quero ficar.
Meti os pés e as mãos e o corpo todo e não tive forças pra tirar o corpo dele  dali
Pois quando existe vontade a força dobra e ele infelizmente foi mais forte do que eu
Voltei pra casa e dormi
Avulsa
Ouvi no sonho que as gotas de orvalho ficam doce amanhã
Escutei sua voz de longe e ele não pedia ajuda, gritava coisas sem sentido.
Fincava as pernas na distância sem saber que eu estava reaprendendo a engatinhar
Quando dávamos as mãos havia a transmissão da força, a minha força quis partir.
A fraqueza bateu, tive que reaprender tudo.
O cheiro do meu cabelo misturado ao seu pescoço às duas da manhã do lado esquerdo da cama  ainda está impregnado nas paredes
Eu não vi quando derrubaram o vaso da nossa mobília
Nem sei quem foi
A povoação era enorme, sombras e sombras e vultos do inferno
Agora eu tinha que arrumar a nossa gaveta
Seu calção azul e seu isqueiro verde junto a  minha calça colorida da sua viagem
e os seus olhos lá fora que essa lembrança não dá pra guardar.
Você tem noção do  que eram o movimento daquelas pupilas dentro do meu coração?
Tive que jogar o âmbar do fim de tarde que seria até o fim do mundo
vencendo a vida donde ela viesse lá no sol
Antes eu tinha olhos de obsidiana, uma vez não tive rosto, hoje nada.
Soterrada pelas coisas que planejávamos
Como amordaçar a euforia de ter descoberto a felicidade?
Não sei esconder cadáveres
Bastava um sopro e o barco continuaria navegando
Juntos encontraríamos o cais
A mãe natureza não avisa a tempestade e eu não sabia nadar
Todas as coisas agora no fundo do mar, além de mim.
Perdi o meu  cúmplice de olhar espelhado sobre o mundo
Tivemos um  filho mas ele está aprendendo a andar sozinho.

Aviso pra ressuscitar.

Menos de 5%, bem menos... E o que sobra só pode ser o invisível.
Manoel tem o gosto de sangue corrido, sei do gosto que tem a água que escorre da sua testa.
Sonhei três vezes com todos os sinais que ignorei,  quando Sérgio me ligou dizendo aquilo
A central de atendimento comporta centenas de pares de ouvidos, como posso perdurar a coisa incrédula que habita por querer a restauração do que se quebrou?
-Eu queria dizer uma coisa antes de terminar a ligação.
-Pois não.
-As pessoas que estão contigo, estão contigo porque tu é especial, não se preocupa, terás uma passagem linda.
A nunca mencionada com o próprio nome vidrou os olhos na tela de um computador segurando os fios.
-Obrigada.

E me lembro bem do seu semblante de quem apertaria DEL sem usar 1%
Sem nem saber que os sóis vem mostrando outras coisas pois quem sente dor não fica na sala de espera.

Just dream

Estive nas bordas das nuvens
e por ser magnífica a sensação
Tive que sentir por todos os poros
A vida nunca tinha me olhado de volta
Daquela vez olhou
E as minhas esferas de  petróleo reluziram na escuridão.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AURAS ÍMÃS

Achei por mim em cima do lençol da vida
Quando dei permissão aos olhos
Nunca gostei de lençóis
Mas a coberta tinha cheiro de bem olhado
O sol tocou meu coração
assim que o meu leito desgovernado foi invadido pelo teu rio sagrado
A mobília torácica velha foi por água abaixo
Que importância tem agora que mudei de casca?
O meu céu suspira fundo todas as vezes que as mãos se desatam
Não tem uma só corrente de chuva
Que me faça desaguar noutra ruela
Benditos sejam os encontros de purificação

VOYEUR TRAPEZISTA


Sendo o circo grande
Gargantas de fogo proliferadas a mais
E seu tempo curto
Começo a entender o tempo breve da magia
No meio da palhaçada.


Quando Olga passou na frente da vitrine no meio da avenida
viu no espelho o almoço do dia
Duas ameixas fritas
Pelo sol da madrugada fria.

REMORSO EM VAGO VÃO



Consertar os ponteiros é o mínimo que se pode fazer
quando se perde a hora
Pena seria se o trem já tivesse partido
ao meio.

Sentido



Às 9:57 na avenida maranhão
a van desembestada fazia exposição dos signos
E eu pedi a Deus para acreditar que os astros mentem.

TEM NINGUÉM AQUI NÃO, MOÇA!

A dúvida às vezes aparece três da tarde
Ás vezes invade a madrugada
Você oferece café e quer escutar
a visita mais espaçosa das várias
Até fica tarde e ela dorme na tua casa.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

SENSORIAL

Sei de mim  por onde passo
Desconfio do que desconheço
Pois só me sei e não sei nada do caminho vasto
Sou rocha de mim nos turbilhões de olhos vagos
E talvez  por isso não sinto parte do espaço.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Acontece que quero a erudição das estrelas
mas o espaço é tão vasto
Feitas de brilho e perdidas
num abraço de heteronomia que me ofuscam.

Oração


Que me acorde antes do sol


aquilo que me impeça do sono dos justos

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

POÇO.

"No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame.No fundo da luz e dentro da lama e ainda me ame."

domingo, 15 de novembro de 2015



A ação que não age é mais esperta e derradeira, observar as não ações e seus impedimentos, fazer uso da sensibilidade e entranhar nos modos das inalterações é salvador. Ninguém há de viver o auto resguardo vinte e oito horas, quanto mais uma a dentro. São dez dedos e não se fecha uma mão sem que a ponta de um dedo fale. Língua é distração. Não subestime nunca o olhar de quem não vê enquanto os dados rolam. Eles estão no pé da roleta vendo as fichas multiplicarem. Quem desmontou os castelos que trate de desocupar o terreno e há quem lembre dos cantos querendo voltar. Percebem-se os inquilinos de longe se chamando, havia uma fonte do lado de fora, e ela estava seca, mas o cheiro da casa trazia uma nova esperança. Dava pra sentir o cheiro da nostalgia daqui. Carla passava na frente só porque sabia que Elias voltava ali vez em nunca, e quando voltava encontrava Carla olhando pro retrato. Elias só queria pegar seu jogo de damas, mas Carla estava lá. O retrato, o jogo, Carla e todo aquele gemido ecoando. Os caminhões passaram e Carla falou algo sobre o flanelinhas que estava na rua, Elias sentiu pena do menino. Olhou pra Carla com qualquer coisa que não nomeou, Elias esperou tanto por aquela Carla que se apresentara cada vez melhor desde a última tarde em que a encontramos. Mas não pudia voltar. Olga na calçada da frente olhava por cima dos muros tentando desvendar as cores do céu daquele cenário esperando cada lugar ficar de uma vez por todas na sua coisa. E ela certamente não seria a pedra.

sábado, 24 de outubro de 2015

Os espaços entre as àrvores da floresta do peito
Estreitaram os ponteiros quebrados
O tempo, coisa absurda
Passa o presente
Engoma  distraidamente o passado e estende


É como banhar e cagar  depois.
As coisas todas empilhadas, sobre o mensageiro do vento balançam as bordas do que emoldura a cama e os pés. Tudo sob controle, o xadrez e as pupilas empoeiradas de covas e aberturas das rainhas. As três tomadas disponíveis sem T’s , as  pirâmides dos azulejos de pele soterrando , Ser então o que esperou. Sustenta bem assim quietamente o que empilhou.
Os tetos de quem comportam o deleite de ser não tem forma de céu, só cor de nuvem.
Uma águia no meu ventre vermelho
Sangra toda vez que vê bem longe

domingo, 11 de outubro de 2015

BAILE DE ILUSÃO

Andando por entre os becos da liberdade
Vi no meio fio entre as vidraças
Cabeças aniquiladas e liquidação de sorrisos
Como posso estar no meio do caos sem putrefar ?
Todos sonâmbulos da mesma rua
Os pijamas rasgados pelas unhas do invasor
Os cortes de cena, os cortes de dentes
Todos querem se cortar à noite na boca de quem quer que passe...
Como posso não pertencer a este açougue?
É que não tenho fome disso
Os pescoços, as poses, os olhares, o movimento dos dedos prum lugar distante, o jájá.
Eles não esperam mais nada
Elas estão prontas, de flechas atrás das orelhas
Camafeus e Afrodites roçando as colunas que sustentam o mundo
sem sequer beijar a boca de café
Só borrar, acabar o batom é o único  desejo
Assisto às cápsulas se olhando no espelho sem saber que são cápsulas
Vendo pernas, sutilezas, usando da melhor forma pra se enganar e agarrar...
Como posso me atrever a dizer que não são aquilo ?
Os véus são de plástico.
Há flores em todos os poros, os corantes e os cílios que abrem a janela da alma
já tem em seus movimentos todos os scripts armazenados
Olho pelas cortinas e não gosto do que vejo
Volto-me para a porta, sento na calçada a pensar...
No jogo das pernas, como saber qual se encaixa na outra de forma que os corações se abracem?
A bilheteria fica lotada, todos apostam em todos
Há uma enorme fadiga nas lembranças
São cabelos e bundas e peitos e paus de diversas formas, como saber?
Rasgam as camisas de Vênus no dente e depois lambem o leite derramado
Disseminam "sins" e alegorias de enfeites subconscientes que confundem
Uma enorme caldeira que ferve de caldo e suor
Ó céus, como presenciar? Deus da noite e das criaturas, abençoe os farejadores da verdade,
afastai os sequestradores de corações que fazem rifa com a felicidade alheia, protege os copos, as entonações e os olhares curiosos.
Todos sambam e são amor da cabeça aos pés, são inspirações, musos e musas do faroeste
Todos, sem exceção, tem uma bagagem poética, profética e patética para ofertar.
Não. É melhor aqui sentada, sem alardear minha própria existência em autoafirmação, me atino a voltar e olhar pela brecha os palcos das esquinas onde estão, filantrópicos de sentimentos inexistentes, amantes das verdades convenientes, das mais forçadas naturalidades. Não, não há exigências, nem posso. Ao menos as observações fazem a sabedoria da captação aguçar. Peneirar. Mostram tudo, tudo o que os inocentes expectadores querem ver, ativam bem ao certo a curiosidade de quem procura sentir o que não sabe o quê. Não se perca, eu te peço, não se perca, não se derreta entre as fendas da passagem do súbito e ilusório querer. O efeito Katrina não vai parar, salve a você.

domingo, 27 de setembro de 2015

Assinado Eu.

Escrevo porque não toco
Tropeço porque não penso
Quero
Nada posso
Fêmea
Nada efêmera
E do meu lado uma escrivaninha

Quem nunca? (Sobre esfarrapos)



Uma cachaça bem tomada
Faz a memória reprimir
Algum fato desajustado
Que você fez antes de dormir

LABUTA



Falando inconscientemente

Ela dorme

E suspira

Um suspiro como quem diz:

Eu só existo depois do meio dia.

Teoria de arquibancada caloura

Estavam todos errados
Quando decretaram que amor
Eram dois humanos amarrados
Mentiram feio
Quando disseram que amor
Tinha que chegar cedo
Mentiram mais ainda
Quando cruelmente conceituaram o amor
Fazendo vudu com o destino
Da liberdade de dois corpos nus
Esse ato falado e nunca sentido de fato
Ainda vai levar eles a um abismo
Quando descobrirem que o amor
Acontece todas as horas
Em que o cheiro do defeito do outro
Provoca arrepio

Um quarto.



Aqui dentro da cena
Resto de pólvora
Limpem as digitais
Isso não me apavora
Cena de crime local
Povoado por quem sinto perto
Sinto angústia total
Mas não morro de tédio.

Voyeur, Voilá!




Falar o que pensa
Sem moldar as palavras por hipocrisia
É considerado veneno hoje em dia
Mesmo que se fale nas dez caras envolvidas
Como se ninguém nunca tivesse desenrolado a língua
Uma vez sequer na vida
Eu não posso, com essa ruma de gente desentendida
Que amadurece quando é conveniente,
Ou quando não quer perder a partida
Não entendo xadrez nem poker,
Arrisco mesmo só na vida
Desse jogo onde as cartas estão na manga
estou doando todas as fichas pra quem fica.

ALFORRIA

O meu lugar é onde o outro conheceO meu som tá praça que nunca vai parar
O meu dom é não pestanejar
O meu tempo é quando disse Vinícius
Eu preciso conhecer o zé daquela quitanda
Preciso cantar com joão, ladainha na bahia
Preciso conhecer o baião, o chimarrão
Eu preciso inverter os sentidos das avenidas
Eu preciso cair na ocean drive hoje
Renascer em baixo guandu amanhã
Terê, sina do meu coração
Não pense que te desprezo
Mas preciso sair da barra da tua saia
Antes da poesia virar vida a sete palmos do chão

Cordel do bláblá

O poeta é romântico
A poetisa é desvairada
Coitado de quem pensa isso
Os dois tem a mesma estrada
Se tratando de ilusão
Amor e outros clichês
Se alguém domina mais eu tô querendo é saber
Tá difícil pra nós dois
Lidar com essa situação
As redomas artificiais
impedem ver o coração
Corações esses de artérias de ferro
Pele de zinco quente
Queimam de madrugada
De manhã, inverno
Eis o mistério
De uma gente que exala amor
E foge do bichinho como quem tivesse pavor
Os relógios são egoístas
Esfregam na cara o que você vacila.

À prova de som.




Você que julga quem atenta sobre a própria vida

Não imagina a infelicidade desmedida

Que é ver os dias passarem

E o coração que só quer afoitar de alegria

Se empoeirar, virar casa vazia.


Devaneio de Olga parte 4: Efemeridades

Olga passeava com seus chinelos arrastados enquanto a lua era vista como nunca ontem, haviam algumas manchas no meio do céu e Olga ficou a pensar... fumou um cigarro, fumou dois e sentou.
Quantas luas em fases mil existem por aí brilhando de longe, só de longe? Quanto eu não tenho que chegar perto pra que o brilho não desapareça? Lembrou de um trecho de Buk que dizia " o amor é uma névoa que se dissipa na primeira luz de realidade." sussurrou pra lua... 
-Esse velho não sabe nada! - Disse Caio
-É por isso que eu queria ter visto a lua sozinha. - Disse Olga segurando a carteira de cigarro se levantando.
- Ah, já vai? Vai tarde. Olha, fica aí nesse teu mundo perfeito. Ingênua... ingênua nada. Imbecil!
Olga não escutou uma só palavra enquanto olhava bem nos olhos de Caio
E saiu como quem aprende a respirar sozinha.
A lua continuava a ser contemplada entre as faces foscas da cidade,  os mendigos olhavam pro esgoto distraídos.
Caio não é um monstro, talvez o mais lindo deles se fosse, olhos de amêndoa e pêlos de sol, mas não tinha brilho, Olga tentava ver entre os dentes perfeitos, Caio era o tipo de gente linda, do sorriso emoldurado pra admiração mas no fundo era banguela, qualquer coisa ficaria bonita em Caio. Até ele mesmo.
Caio nunca esteve por aqui e fez questão imensa de escorrer pelo ralo antes mesmo de borrar o batom vermelho de quem só passa quando quer que borrem. Há tantas luas por aí, pensou Olga.
São trinta fases, trinta vozes, trinta corpos, um de brinde quem sabe quando, são trinta.
A beleza de rabo de olho encapetada pelo que Caio nunca viu foi seu maior desengano, sua morte, a masmorra do prazer em idealizar imagens e gozar sem dó  muito menos piedade, Caio não dava um ponto, só nó cego, se perdia no meio das crateras lindas.
Olga arrastava o chinelo, a saia e os cabelos pelos cantos onde Caio se entorpecia vendo todos os demônios que ele não viu enquanto estava de olhos bem abertos pra cima do aperitivo das ruas : a lua minguante. A que parece sorriso, mas é ferro quente.
É por isso que Caio só serve pra iniciar parágrafos, pensou Olga deixando ele fervendo entre os ferros da ponte com Safira e Cássia, luas cheias e afetuosas a qualquer espécie de  Caio. Flores de delicioso aroma artificial e um riso concordante com tudo, bem canibal.




CICLOVIDA

João gostava de Maria
Que não gostava nenhum pouco
De perder José de vista


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

LAMA SOUL

Caminhando sem rumo no mangue
A escuridão me pegou
Cavei mais a fundo
Encontrei Luz
No lamaçal interior.

Corpo de Sol

Na tentativa de desnudar a alma
Vi que precisava na verdade de muita calma
Deitei a pensar
Quando o sol fez luz nos pêlos
Daquele corpo jogado no banheiro
Atravessando basculhante
Sem forças e vontade
um saco fêmeo deitado
quer pensar
Derramando as partes nos azulejos
Nas dobradiças do descansar
Canto que reparte
A orquestra carnal
A vida vira arte
Desde que a inspiração seja real.

MATILHA

Os adeptos ás rupturas afetuosas prematuras
Manjam muito mais da solidão
do que os mendigos da rua
Espantam as chances de matar o tédio
Rompem abraços
olham sozinhos pra lua
Em vão perambulando dentro do próprio labirinto místico
Deixando escorrer entre os dedos
As melhores criaturas.

ANTITUDO


Os que rastejam rumo a coisa alguma
São bem alimentados por alma nenhuma
Incomus perolados
Pelos lados cheios de vômito
De mãos dadas com o afronto
Ideais infiltrados no subúrbio imaginário
Só por dizer, línguas de belos modos...que cansam!
Dados apontam nova geração
Cerca de milhões de cabeças rolando
Sem sangue, sem pulso, sem coração.

SARNA

Passeando pelos cordões da insônia
Rasgando umbilicalmente qualquer ilusão bamba
Atrofiando as inverdades...
-Que seria verdade?
O que não se pode ver de outro jeito
Desilusão?
Pois bem, alguém pode apagar as luzes
desse teletransporte infernal.

SPOILER

Nesses tempos sem lucidez
Se fazer de doido é a única saída
Pra quem não enxerga nada que fez

Á menina mais fascista da cidade

Quando você der um teco
Quando você der um tapa
Quando você enfiar o pé na jaca
Quando você tiver um passamento
Não ligue pra sua mãe
Por que ela não sabe quem é você
Fora o dia do seu nascimento.

E não os que dormem

Nem sei bem
A hora que esta luz se alojou em meu ser
Parindo este ser que nada possui
Que nada alcança
Mas os espíritos que vivem em festa
Só bebem vida
A esta hora, em qualquer avenida
É esse que dança.


27.03.14

VIOLADAS




Há mais coisas a se lamentar
Entre as coxas de uma mulher
Que o murmúrio dos muros famintos
e perigosos tenham dado fé

Devaneio de Olga (Episódio I) - atolada na empulheta

Deitada no tapete do avô, Olga arranha as paredes tentando entender o que nunca ninguém vai deixar de pensar. O peso das coisas parece estar dia após dias vencendo a anorexia do cotidiano, abalofando os destinos mútuos da cidade. Balança os pés entre tragos, tentando fazer desenhos com a boca, mas essa era torta. Olga se coça a se perguntar por quê diabos entra no teletransporte que nunca foi dela, andando entre os mundos que talvez nunca foram deles.
"Ô tormento besta!"
Disse seu França enquanto botava as cervejas pra gelar na quitanda.
Olga falava tanto em sabotagem que estava a ponto de penalizar seus próprios freios por uma viagem usada pelo combustível alheio que já foi até gasto.
Mas o que faríamos todos nós, me digam... se não sentir? Sentir é o resultado de tudo que não foi, é, continua e cessa. Vi Olga todos esses anos andando na rua com olhos famintos de horizonte de quem olham pro nada se perguntando as mesmas coisas, nunca obtive resposta. Cada porto, um cais, um tesouro.
Um beijo, outro beijo que foi sexo de outro sexo na mesma cama com outro lençol do mesmo copo com as mãos derrapando nas mesmas paredes e os estalos dos beijos ecoados no mesmo teto de outra lua solta na mesma avenida de outro ano.
Eu continuo a desentender Olga . Mas sinto como se fosse eu.

terça-feira, 10 de março de 2015

SÃO BENEDITO


Os sinos da igreja
Dão de ver no Jardim
O silêncio,  o badalo
Pós domingo,  o fim.

JABÁ

O pacote é caro
Não pode ser violado
Digo sobre condições
Artefatos
Quem me conduz agora
Tem na testa escrito : frágil
Estou certa que é  de propósito
Pra martelar na cabeça
-Quero agitá-lo.

QUITANDA



As 20 pras 2 me perguntam :
-Quer outra cerveja?
Pensei em recusar
É segunda-feira, relutei
Tropecei noutro presságio

-Mas o fim de semana pode nem chegar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Se desata
me enlaça
deixa de cena
de sentir pena
vê  se aprende
não se perde
Se desprende
E me leve.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Todas as vozes ja existem
Eu quero inventar todas as cores
Todas as cores ja existem
Eu quero inventar novos sabores
Todos os sabores ja existem
Eu quero inventar novos ardores
Todas as dores ja existem
Vou inventar algum antídoto
Que ainda não te vi livre disso
E acho que quem vai inventar
Nem vai fazer o teu tipo.
Você não escuta
O que meu olho vê
Você acha lindo
E não parece saber
Que o tesão dos meus cílios
                                                 Grita

Beija você

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Cama de jardim

Depois da melhor foda
Em meses
Disse a ela para esquecer-lhe
Coisa sem futuro
Esse negócio de esquecer
Não se esquece mordida no queixo
Nem vinte e nove beijos
Não se esquecem olhos fuzilantes
Nem vinte e nove beijos
Nem se quer dá vontade de esquecer
gostava do cheiro da mistura com cigarro
ela gostava dos pêlos  também
                                                     dos acasos
esquecer,  fácil  assim:
Decretando.
E decretado estava
Se acabou na última esquina de silêncio
Aquela história  de fogo de palha
Mais fogo que palha
Só fogo,  admito
Ebulição  pupilar
Cama de Jardim

sábado, 31 de janeiro de 2015

No banheiro
Canudos turbinados
Na mesa eles
Lado a lado
Carvalho me espera la fora
Seu estado : alterado.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Escrevo sobre tudo que vejo
tudo que vejo
                     sucinto
sinto que escrevo por isso
e ligeiramente não vejo o que
escrevo
mas  sinto
Estão todos na varanda
Eu na calçada
No passo do copo que desanda
Equilibrando letra por letra
Do que hei de falar
Pro  medo do teu raciocínio gramatical
Não cair por terra
Quando eu confessar
que não tenho algemas
Eu também quero me libertar

Tenho uma boca que tem asas
Pro teu  coração levitar

Denúncia

Meus  olhos mudos
falaram sem querer
o que boca viu
Antes de amanhecer

Nas longitudes dos cílios
vasto espaço
Andança
Na solitude das bocas
Vento quente
Amansa

domingo, 4 de janeiro de 2015

Fascismo

É querer entrar na vida de alguém
E querer que ela nunca tenha vivido
Não se engane
Todos nós
Já estamos com os lacres todos rompidos.

Dó sem ré

A pena é mais pesada do que você pensa
Quando o desejo atiça o que o coração depena
A pena é mais pesada do que você imagina
Quando o coração de um homem é depenado por uma calcinha.

PECADO DE LABUTA



Não há
Sol
Que a faça parar de bocejar
No caminho
No buzão
Em cima do balcão
Falando inconscientemente
Ela dorme
E suspira
Um suspiro como quem diz:
Eu só existo depois do meio dia.

JOSÉ SANTOS E SILVA



Na esquina pagã
o muro do sexo
na saia cristã
o terror controverso.
Quatro postes
                         de quatro
Os muros
De quatro
                  saltos noturnos.
Coração assanhado
Batom desbotado
Cabelo de sal
Domingo nublado
Demaquilando
A avenida central.
Hoje vou de salve
Solta pra relento
Vestida de clichê
Protegida pelo vento
Encontrar cerveja
No desencontro das bocas
Sozinha no bar
Se o banheiro é a igreja dos bêbados
Deixa eu rezar.



Vi

Seu olho arregalado
Me  olhando assim de lado

                                  ARREGALA


Meu psicoestado.