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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Devaneio de Olga: Confabulações noturnas com Ícaro.

Olga acabara de interpretar uma das estrelas do apartamento de Larissa quando resolveu perambular pela cidade. Resolveu se reaproximar da música de Arnaldo. Estava escutando a patrulha do espaço quando atentou a parar no bar mais calmo e próximo, ao menos analisava onde cabia e quase não cabia na cidade.
- Você está entendendo esse jogo de esfinges? Perguntou sentando ao lado da mesa de Ícaro num suborno a própria timidez.
- Estou. Não gosto nenhum pouco.
A superficialidade humana pedia um cigarro a Olga,  Ícaro carregava isqueiros.
- Podes sentar... aqui?
Olga já levantara.  No fundo o sol em áries lhe fazia saber a que veio.
A tortura da subjetividade estava na transmissão corporal. Ela gostava de reconhecimentos espirituais. Tocaram "cortesia" como ela pediu, e cá pra nós qualquer cantor quer calar a boca de quem muito pede ou fica feliz em não ter escutado "toca Raul" embora fosse uma das próximas.
-Você fala bonito.
- Eu só cantei.
- Você cantou fechando os olhos. Pensei que só eu fazia isso.
Janaína, que estava sempre perdida com cara de autonomia em pessoa parecia estar com ódio quando olhou o vocalista. Era olhar de mulher compenetrada, os olhos castanho avermelhados assim pelos finais das frases cantaroladas.
Às vezes o acaso permite o sorriso extremo...Gargalhada: espécie de riso aberto na boca de  quem muito já sofreu.
A quitanda da Santos Dumont a emocionava pois as árvores ainda não foram cortadas pelos fios dos postes,  conseguíamos ainda  ver o céu verde. Há uma incapacidade humana de ser feliz. Percebo isso quando Celecina tranca as portas de sua casa e não deixa uma lâmpada acesa sequer. Eu me torno feliz neste momento por que a visão de Celecina guarda os pássaros que nãaise pode quando só ela viu. O poder de ser guardado no olhar do ser vivo ultrapassa as paisagens. A significância se agarra ao significado. O céu chama.

- A escuridão também te atormentou?
-Por longos anos, Olga.
- A mim também. Mas... percebe as nuvens densas?
- E o que tem?
- As nuvens densas não te parecem nada?
- Geralmente desenhos.
- E as espalhadas?
- As espalhadas nada. Podes me dizer o que pensas?
- Quase ninguém quer saber.

Acendem um cigarro e se olham mais profundamente que no último natal.

-Bem, as nuvens densas tem sentido, tem forma. Não te parece chumbo?
- Não, eu acho bonito, parece peso de peito. Olga é um som bonito, aquele de livro pesado caindo na mesa.
- Eu não gosto do peso dessa nuvem, embora ache bonibo, eu gosto de ver o azul.
Ícaro mostrou os dentes por baixo dos olhos que ficavam logo abaixo das sobrancelhas mais protetoras que Olga já viu.
Acontece que a ilusão para Olga é como a nuvem em formato de qualquer coisa que fosse. Algo que impedia de ver. Que mostrava a superfície. Olga era a viajante em busca da fonte do ser: o afeto real.
As nuvens espalhadas mostram sem vergonhas o azul por toda parte, o espalhado até parece mar. De chumbo passa a ser fumaça solta. Solta.

Ainda é possível brincar com as nuvens. Manoel trouxe uma cerveja pros dois velhos conhecidos tímidos. Pois uma coisa há de ser bem certa, o céu não seria o  mesmos dali em diante.

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