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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

domingo, 27 de setembro de 2015

Devaneio de Olga parte 4: Efemeridades

Olga passeava com seus chinelos arrastados enquanto a lua era vista como nunca ontem, haviam algumas manchas no meio do céu e Olga ficou a pensar... fumou um cigarro, fumou dois e sentou.
Quantas luas em fases mil existem por aí brilhando de longe, só de longe? Quanto eu não tenho que chegar perto pra que o brilho não desapareça? Lembrou de um trecho de Buk que dizia " o amor é uma névoa que se dissipa na primeira luz de realidade." sussurrou pra lua... 
-Esse velho não sabe nada! - Disse Caio
-É por isso que eu queria ter visto a lua sozinha. - Disse Olga segurando a carteira de cigarro se levantando.
- Ah, já vai? Vai tarde. Olha, fica aí nesse teu mundo perfeito. Ingênua... ingênua nada. Imbecil!
Olga não escutou uma só palavra enquanto olhava bem nos olhos de Caio
E saiu como quem aprende a respirar sozinha.
A lua continuava a ser contemplada entre as faces foscas da cidade,  os mendigos olhavam pro esgoto distraídos.
Caio não é um monstro, talvez o mais lindo deles se fosse, olhos de amêndoa e pêlos de sol, mas não tinha brilho, Olga tentava ver entre os dentes perfeitos, Caio era o tipo de gente linda, do sorriso emoldurado pra admiração mas no fundo era banguela, qualquer coisa ficaria bonita em Caio. Até ele mesmo.
Caio nunca esteve por aqui e fez questão imensa de escorrer pelo ralo antes mesmo de borrar o batom vermelho de quem só passa quando quer que borrem. Há tantas luas por aí, pensou Olga.
São trinta fases, trinta vozes, trinta corpos, um de brinde quem sabe quando, são trinta.
A beleza de rabo de olho encapetada pelo que Caio nunca viu foi seu maior desengano, sua morte, a masmorra do prazer em idealizar imagens e gozar sem dó  muito menos piedade, Caio não dava um ponto, só nó cego, se perdia no meio das crateras lindas.
Olga arrastava o chinelo, a saia e os cabelos pelos cantos onde Caio se entorpecia vendo todos os demônios que ele não viu enquanto estava de olhos bem abertos pra cima do aperitivo das ruas : a lua minguante. A que parece sorriso, mas é ferro quente.
É por isso que Caio só serve pra iniciar parágrafos, pensou Olga deixando ele fervendo entre os ferros da ponte com Safira e Cássia, luas cheias e afetuosas a qualquer espécie de  Caio. Flores de delicioso aroma artificial e um riso concordante com tudo, bem canibal.




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