Quem sou eu

Minha foto
A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

domingo, 6 de dezembro de 2015

PARTO

A casa era nossa
Passei os pratos a limpo
Juntei todas as cinzas do caos passado
pela pureza que nasceu
Quando meu corpo se unificou aquelas paredes
entendi a que vim
E meus pés já tinham decorado  o caminho sem nenhum sacrifício
Era do jeito que fosse
Eu tinha atingido o ápice celestial do sentido da vida
O conjunto do ser era meu equilíbrio e o mundo continuava caindo
Mas éramos sobreviventes, éramos juntos e resistentes
Éramos mergulho em meio a toda aquela superfície de lodo
Convictos de que havíamos nos encontrado no meio do caminho
o encontro dos mortais de auras ímãs foi interrompido nessa vida?
Ele já respirava antes de mim e quando vim ao mundo ele já estava pronto
O que senti era inédito,  mas unilateral
Fomos passear no desconhecido de mãos dadas como sempre
Como no segundo dia em que nossos corações se beijaram e eu respondi :sim.
Saltei de paraquedas e esqueci da cordinha.
O que eu mais temia aconteceu...
De longe parecia bosque mas era manguezal e ele foi por lá, curioso.
-Eu te chamei pra ir pras dunas, que você faz aí?
-Quero ficar.
Meti os pés e as mãos e o corpo todo e não tive forças pra tirar o corpo dele  dali
Pois quando existe vontade a força dobra e ele infelizmente foi mais forte do que eu
Voltei pra casa e dormi
Avulsa
Ouvi no sonho que as gotas de orvalho ficam doce amanhã
Escutei sua voz de longe e ele não pedia ajuda, gritava coisas sem sentido.
Fincava as pernas na distância sem saber que eu estava reaprendendo a engatinhar
Quando dávamos as mãos havia a transmissão da força, a minha força quis partir.
A fraqueza bateu, tive que reaprender tudo.
O cheiro do meu cabelo misturado ao seu pescoço às duas da manhã do lado esquerdo da cama  ainda está impregnado nas paredes
Eu não vi quando derrubaram o vaso da nossa mobília
Nem sei quem foi
A povoação era enorme, sombras e sombras e vultos do inferno
Agora eu tinha que arrumar a nossa gaveta
Seu calção azul e seu isqueiro verde junto a  minha calça colorida da sua viagem
e os seus olhos lá fora que essa lembrança não dá pra guardar.
Você tem noção do  que eram o movimento daquelas pupilas dentro do meu coração?
Tive que jogar o âmbar do fim de tarde que seria até o fim do mundo
vencendo a vida donde ela viesse lá no sol
Antes eu tinha olhos de obsidiana, uma vez não tive rosto, hoje nada.
Soterrada pelas coisas que planejávamos
Como amordaçar a euforia de ter descoberto a felicidade?
Não sei esconder cadáveres
Bastava um sopro e o barco continuaria navegando
Juntos encontraríamos o cais
A mãe natureza não avisa a tempestade e eu não sabia nadar
Todas as coisas agora no fundo do mar, além de mim.
Perdi o meu  cúmplice de olhar espelhado sobre o mundo
Tivemos um  filho mas ele está aprendendo a andar sozinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário