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A escrita sempre foi fiel. Os episódios aqui encontrados são batizados de Escarros pois os mesmos são expurgos íntimos e partos divinos diferencialmente temperados pelos versos e circunstâncias que os compõem. Muitas vezes escorrem coisas a todo o tempo sem controle, disso tiro a lição e arte que se eterniza, mesmo que a poucos olhos. O valor é da existência. -Se fosse objeto seria polaroid, cuspiria poesia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Devaneio de Olga (Episódio I) - atolada na empulheta

Deitada no tapete do avô, Olga arranha as paredes tentando entender o que nunca ninguém vai deixar de pensar. O peso das coisas parece estar dia após dias vencendo a anorexia do cotidiano, abalofando os destinos mútuos da cidade. Balança os pés entre tragos, tentando fazer desenhos com a boca, mas essa era torta. Olga se coça a se perguntar por quê diabos entra no teletransporte que nunca foi dela, andando entre os mundos que talvez nunca foram deles.
"Ô tormento besta!"
Disse seu França enquanto botava as cervejas pra gelar na quitanda.
Olga falava tanto em sabotagem que estava a ponto de penalizar seus próprios freios por uma viagem usada pelo combustível alheio que já foi até gasto.
Mas o que faríamos todos nós, me digam... se não sentir? Sentir é o resultado de tudo que não foi, é, continua e cessa. Vi Olga todos esses anos andando na rua com olhos famintos de horizonte de quem olham pro nada se perguntando as mesmas coisas, nunca obtive resposta. Cada porto, um cais, um tesouro.
Um beijo, outro beijo que foi sexo de outro sexo na mesma cama com outro lençol do mesmo copo com as mãos derrapando nas mesmas paredes e os estalos dos beijos ecoados no mesmo teto de outra lua solta na mesma avenida de outro ano.
Eu continuo a desentender Olga . Mas sinto como se fosse eu.

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